O descendente de madeirenses à frente da ilha coberta de cinzas 

Ralph Gonsalves é primeiro-ministro há 20 anos do país das Caraíbas que enfrenta os efeitos de um vulcão.
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Perante a erupção iminente do vulcão La Soufrière a divisa do pequeno país de São Vicente e Granadinas, pax et justitia (paz e justiça) ficou em xeque, mas as autoridades anteciparam-se e deram ordens de evacuação à região nordeste e noroeste da ilha de São Vicente, horas antes da primeira explosão, uma projeção de cinzas e fumo de oito quilómetros. "Enfrentamos uma enorme operação", comentou à NBC Ralph Gonsalves, o primeiro-ministro descendente de madeirenses. Cerca de 16 mil pessoas tinham sido retiradas das zonas afetadas, e umas 3 mil recorreram a abrigos, enquanto a ilha das Caraíbas, cuja população é estimada em 110 mil, estava a debater-se com cortes de eletricidade, falha originada segundo alguns pela acumulação de cinzas, por outros devido à intensidade das descargas elétricas junto do vulcão. Também o abastecimento de água tinha sido cortado em muitas zonas e o espaço aéreo estava fechado devido à falta de visibilidade, disse Gonsalves, de 74 anos.

Depois de na véspera se ter registado nova coluna de fumo e cinzas, desta feita com uns quatro quilómetros, no domingo voltou a haver "outro evento explosivo", como notou a autoridade para as emergências local, NEMO. "Ao terceiro dia tudo parece uma zona de batalha", escreveram na conta Twitter da NEMO, que também citou o primeiro-ministro: "Parece desolado."

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Uma fina neblina tomou conta da capital, Kingstown, no extremo oposto da ilha, enquanto as cinzas se espalharam por toda a ilha, fenómeno que pode continuar durante dias ou semanas, como advertiu Gonsalves, tendo instado os são-vicentinos a serem pacientes e a continuarem a tomar precauções, em especial evitarem respirar as cinzas.

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Nas ilhas vizinhas, Barbados e Santa Lúcia ofereceram refúgio para quem queira, além de se esperar que outros sejam transportados para as Granadinas, embora as operações possam ser dificultadas devido à pandemia. A caminho estão navios de cruzeiro de duas empresas, enquanto a Guiana e a Venezuela terão enviado navios com mantimentos. Numa conferência de imprensa, Gonsalves disse que os são-vicentinos têm de ser vacinados antes de poderem embarcar num dos navios de cruzeiro ou de ir para outra ilha.

À NBC, o líder do país há 20 anos, conhecido como "Camarada Ralph" e que tem o filho primogénito como ministro das Finanças, disse que poderia levar até quatro meses para a vida voltar ao normal, dependendo da extensão dos danos. Alertou que os efeitos serão sentidos em especial na agricultura, setor mais importante da economia do país, que será gravemente afetada. Mais pessimista, o geólogo Richard Robertson alertou para a destruição das comunidades junto do vulcão, tendo em conta o padrão de atividade vulcanológica, igual ao da erupção de 1902, quando provocou a morte de mais de mil pessoas.

A anterior erupção do La Soufrière (nome atribuído pela colonização francesa e que significa "mina de enxofre") remontava a 1979, o ano em que o conjunto de ilhas se tornou independente do Reino Unido após referendo.

cesar.avo@dn.pt

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