O Dao: o Lao-Tsé e o pensamento taoista

O pensamento taoista teve origem na China durante o período pré-Qin (antes de 221 a.C.), e o fundador desta filosofia Lao-Tsé defendia a ideia de "não-ação", a adesão à natureza e o cultivo do corpo e da mente. Enraizado na cultura chinesa, o pensamento taoista também alcançou uma difusão global. O livro Dao De Jing de Lao-Tsé é um dos clássicos chineses mais traduzidos em línguas estrangeiras, com mais de 2052 versões traduzidas em 97 línguas.
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O pensamento taoista surgiu durante o período pré-Qin na China, resultante do contexto político e cultural daquele época, marcada pelas contendas entre os príncipes e os conflitos frequentes. As pessoas começaram a refletir sobre a angústia e o sofrimento trazidos pela guerra, e a pensar em que tipo de vida é que os seres humanos deveriam aspirar. Foi durante este período que surgiram os pensamentos éticos e morais, entre os quais se destacaram as filosofias confucionista e taoista.

No entanto, existem grandes diferenças entre os princípios fundamentais do pensamento taoista e confucionista. Enquanto o Confucionismo enfatiza as relações éticas entre pessoas e a ordem social, o Taoismo concentra-se mais no cultivo interior e na paz de espírito.

Segundo o pensamento taoista, o universo é composto pelo Dao, uma entidade infinita, eterna e misteriosa. O Dao é a origem e a essência de todas as coisas, e a busca pelo Dao representa o estado mais elevado da existência humana.

O Lao-Tsé é fundador da escola taoista e autor do Dao De Jing, uma obra representativa do pensamento taoista. Vivendo durante a Dinastia Zhou e testemunhando o declínio contínuo da Zhou, Lao-Tsé defendia a ideia de "não-ação na governança". No entanto, "não-ação" não significa preguiça ou inação, mas sim governar um país com respeito pelas leis da Natureza, reduzindo intervenções não-conformes às regras naturais, e adotar uma forma de educação que responda às aspirações do povo, de modo a permitir, de uma forma natural, o desenvolvimento e o progresso da sociedade.

No que diz respeito ao cultivo pessoal, Lao-Tsé, ao propor uma filosofia de aceitação da natureza e aperfeiçoamento pessoal, sublinhou que o indivíduo devesse viver em harmonia com a natureza através da prática de cuidados com a saúde, a personalidade e o cultivo do espírito para refinar o seu interior, até alcançar o autoaperfeiçoamento e a elevação espiritual, e atingir o equilíbrio e a harmonia interiores.

"A bondade mais elevada é como a água que beneficia todas as coisas e não compete." de acordo com esta citação do Capítulo 8 do Dao De Jing, o "Dao" tem a capacidade de nutrir todas as formas de vida tal como a água, e também de possuir a adaptabilidade universal da água (capaz de se acomodar em qualquer recipiente), e acredita-se que uma pessoa deve ser como a água, com uma mente aberta, um caráter humilde, uma mentalidade mundana e um estilo de vida generoso e honesto.

Além disso, Lao-Tsé também defende que "coexistem contradições, tais como ser e não ser, facilidade e dificuldade". Isto significa que todas as coisas têm contrapartes opostas que são interdependentes e se transformam uma na outra. Este é a doutrina do Yin (femenino) e Yang (masculino) no Taoismo, um reflexo da filosofia materialista dialética na sua expressão simples.

Acresce que o pensamento taoista imprimiu uma influência significativa na literatura, na arte e na perceção estética da cultura chinesa. Durante a Dinastia Jin Oriental (317-420), o poeta Tao Yuanming, insatisfeito com a burocracia da época, decidiu abandonar a sua função pública e regressar à vida campestre. Foi nesta paisagem rural idílica que encontrou o "Dao" e o compreendeu. As cenas do seu trabalho nos campos eram uma presença constante nos seus poemas bucólicos, que expressavam o pensamento taoista de rejeição da busca da fama e riqueza efémera, preferindo, em vez disso, uma vida simples e sem preocupações.

Li Bai, o poeta mais famoso da Dinastia Tang (618-907), expressava sempre nos seus poemas, uma admiração e reverência pela natureza através das descrições exageradas, cheias de imaginação romântica das paisagens naturais. Por outro lado, demonstrava um descontentamento com os conflitos mundanos e uma aspiração por uma vida livre e despreocupada. Estas características, juntamente com o seu temperamento indomável e a indignação com a hipocrisia social, são evidências do influência do pensamento taoista na sua obra.

O pensamento taoista não apenas tem uma profunda influência na cultura chinesa, como também é divulgado no mundo inteiro, sendo considerado como uma riqueza espiritual compartilhada pela toda a Humanidade. Segundo estatísticas incompletas, o Dao De Jing possui pelo menos 2052 versões traduzidas em 97 línguas, tornando-se um dos clássicos chineses mais traduzidos.

Há várias traduções em português, tais como o Tao Te King - Livro do Caminho e do Bom Caminhar (2010), do sinólogo português António Miguel de Campos; o Tao Te Ching - Livro da Via e da Virtude (2013), do sinólogo português António Graça de Abreu, e o Dao De Jing (2015), do sinólogo brasileiro Giorgio Sinedino, entre outros.

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