O coronel da cara pintada que foi herói nas Malvinas

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O último general argentino a levantar armas contra a democracia devia ter morrido na prisão. A justiça condenou-o à prisão perpétua a 3 de Dezembro de 1990. Mas, como escreveu o jornal Clarin, "na Argentina as penas não se cumprem". Mohamed Ali Seineldin, 75 anos, morreu vítima de um enfarte, quarta-feira, a caminho de um hospital, numa rua da capital, Buenos Aires.

O antigo coronel foi perdoado pelo presidente Eduardo Duhalde, em 2003. Mas o Governo da actual Presidente, Cristina Kirchner, proibiu que lhe fossem prestadas honras militares no funeral. Na Argentina ainda está viva a memória do golpe de 3 de Dezembro de 1990.

Faltavam dois dias para a visita do Presidente americano George Bush quando a jovem democracia ouviu Seineldin, numa gravação, dar esta ordem: "Execute-se a operação."

Os seus seguidores da ala nacionalista do exército, os carapintadas - assim chamados por pintarem os rostos - sublevaram-se contra o presidente Carlos Menem. Os tanques deixaram os quartéis e ouviram-se tiros nas ruas de Buenos Aires.

Seineldin já tinha participado noutras duas intentonas, contra o Governo de Raúl Alfosin. Mas aquele golpe foi diferente. Além de morrerem 13 pessoas e outras 350 ficarem feridas, surgiu num momento em que a Argentina parecia estar a conseguir cortar com o passado de instabilidade.

A sublevação foi controlada pelos militares que ficaram do lado de Menem. O líder da revolta foi preso e mais tarde condenado.

Seineldin nasceu a 12 de Novembro de 1934, em Entre Rios, numa família drusa libanesa. Daí vem o seu nome árabe. Era peronista, nacionalista messiânico e um católico fervoroso que obrigava os seus homens a rezar à Virgem.

Como militar, Seineldin teve um currículo impecável. Foi considerado um herói da Guerra das Malvinas, em 1982. Como tenente-coronel, comandava o regimento de Infantaria que mais baixas infligiu à tropa de Londres, enviada por Margaret Thatcher para proteger a colónia britânica no Atlântico Sul. A prestação na guerra valeu-lhe muitos apoiantes que durante os anos de 1990 reclamaram a sua libertação. O presidente Duhalde concedeu-lhe o indulto a 20 de Maio de 2003.

Seineldin esteve 13 anos atrás das grades. Depois de libertado, levou uma vida discreta, mas continuou a criticar o imperialismo e o modelo neoliberal americano.

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