O coração de Ali não queria desistir: "Bateu mais 30 minutos"
"Um verdadeiro testemunho da força do seu espírito e vontade." Foi assim que Hana, filha de Muhammad Ali, descreveu os últimos momentos da vida do pai. Hana revelou numa mensagem nas redes sociais que o coração do lendário pugilista continuou a bater mesmo após todos os outros órgãos terem "desistido".
"Os nossos corações doem, literalmente. Mas estamos contentes por o nosso pai estar agora livre. Tentámos continuar fortes e dizer-lhe ao ouvido: "Podes ir agora. Nós ficaremos bem. Amamos-te. Obrigado. Podes voltar para junto de Deus." Todos continuámos em redor dele, a abraçá-lo, a beijá-lo, e a segurar as suas mãos, enquanto cantávamos as rezas islâmicas. Todos os seus órgãos falharam mas o seu coração não parava de bater. Por mais 30 minutos... O seu coração continuou a bater. Nunca ninguém tinha visto algo assim", relatou Hana Ali.
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As mensagens e dedicatórias a Muhammad multiplicaram-se nas horas após a morte do pugilista norte-americano, que faleceu aos 74 anos, após 32 anos da sua vida a lutar contra a doença de Parkinson.
Ontem, foi erguido um monumento improvisado diante do Scottsdale Healthcare Osborn Medical Center, onde Muhammad estava internado desde quinta-feira, na sequência de problemas respiratórios. Cartazes, velas, fotos, flores e outras lembranças acumularam-se em homenagem ao pugilista que voava como uma borboleta e picava como uma abelha.
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O funeral de Ali realizar-se-á sexta-feira e terá portas abertas "ao mundo", informou um porta-voz da família. A cerimónia será antecedida de uma procissão pelas ruas de Louisville, Kentucky, na terra natal da antiga glória do boxe, e respeitará os pedidos de Ali antes da sua morte. Ali abraçou o islamismo em 1964 - curiosamente, poucos dias após ter conseguido pela primeira vez o título de campeão mundial de pesos pesados -, deixando para trás o nome Cassius Marcellus Clay, e pediu que o seu funeral seguisse todos os princípios habituais da religião.
Três discursos pedidos
A procissão terá início sexta-feira de manhã e passará por diversos locais com significado especial para Muhammad Ali. O percurso não é todo conhecido, mas o ex--pugilista pediu para o seu corpo passar por alguns locais específicos. O funeral decorrerá cinco horas após a procissão, ao início da tarde, no KFC Yum! Center, uma arena de multidesportos com capacidade para 22 mil pessoas.
A família terá direito a um momento em privado, antes de o local ser aberto ao público. Depois, seguir-se-ão três discursos pedidos pelo ex-pugilista, com destaque para Bill Clinton, ex-presidente dos EUA. Há quatro anos, Clinton fez uma homenagem a Ali, considerando-o "alguém que fez milhões de pessoas acreditar e que se tornou um exemplo de superação".
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A segunda personalidade a falar será o ator Billy Crystal, responsável pela apresentação e condução de uma cerimónia de homenagem a Muhammad Ali aquando do seu 50.º aniversário. Crystal chegou a fazer imitações de Ali em programas humorísticos e cativou a admiração do atleta. "Ele adorou e começou a chamar-me "irmãozinho", uma alcunha que ficou até hoje", disse o ator, antes de se despedir do "melhor homem que alguma vez pudesse conhecer".
Por fim, caberá a Bryant Gumbel, jornalista que acompanhou a carreira de Ali, pronunciar-se sobre a vida do pugilista. "Era uma inspiração que não conhecia barreiras e foi uma honra sentar-me, olhar para ele e ouvir as suas histórias. Quando te encontravas com Ali, nunca sabias do que é que acabarias por falar", recordou.