O Conselho Económico Portugal-Marrocos
A visita efectuada pelo secretário de Estado da Internacionalização de Portugal, Eurico Brilhante Dias, nesta semana a Marrocos teve como ponto alto a oficialização no papel do Conselho Económico Portugal-Marrocos, tendo na Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e na Confédération Général des Entreprises du Maroc (CGEM) os seus principais promotores. Esta plataforma tem como interesse alavancar a cooperação empresarial entre os dois países nos sectores do digital, têxtil, automóvel, aeronáutico, saúde, energia e metalomecânica.
Marrocos há muito que tem olhos em Portugal e o mesmo tornou-se cada vez mais público, e até agressivo, à medida que a crise diplomática entrou num crescendo com a vizinha Espanha. De tal forma que existe actualmente uma nova modalidade de crédito para as empresas marroquinas que queiram investir exclusivamente em Portugal, com contornos muito específicos. Trata-se de algo novo, ainda sem um nome técnico, mas que se aproxima a uma linha de crédito específica para investir em Portugal. Como? Através da compra de parte da quota de empresas portuguesas, não tendo, porém, o intuito de estes investidores se estabelecerem em Portugal. O objectivo é o de criar parcerias nos sectores supracitados, ganhar conhecimento através de formação e da experiência criada a dez anos, por exemplo, e depois canalizar esse mesmo conhecimento para as suas casas-mãe em Marrocos, ponto de origem do investimento. Porquê?
Porque Marrocos não vende o ouro ao bandido, porque esta aproximação a Portugal entra na lógica da diversificação e da fuga às dependências que tem de Espanha e de França, porque Marrocos, já farol no Magrebe, Sahel e África Ocidental, tem ambições continentais em África e só se conseguirá impor enquanto tal com uma indústria forte, enquanto produtor e para produzir mais e melhor precisa de comprar conhecimento. É este o móbil desta investida marroquina em Portugal. Por exemplo, Marrocos precisa presentemente de compensar a perda de gás natural que a Argélia lhe nega desde o início do corrente mês. Portugal não lhes poderá fornecer gás, mas pode fornecer electricidade, pelo que um cabo entre os nossos países deverá ocupar esse actual vazio ainda antes de 2030.
Na mesma lógica da diversificação, esteve prevista a ligação marítima entre Tânger e Portimão para o Verão passado. Neste particular o "azar dos Távoras, que foi dos marroquinos", foi esta vontade e anúncio ter acontecido em ano eleitoral autárquico. Por isso mesmo o processo tomou caminhos à portuguesa e embrulhou segurança com condições portuárias e silêncios vindos de Lisboa, enquanto o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras se encontra(va) em transe e as restantes polícias e Autoridade Tributária apreciaram o quanto pior melhor! Em campanha eleitoral, a reboque deste "ambiente de negócios", os mesmos que inicialmente acolheram positivamente o romper de um exclusivo espanhol chegaram a dizer "a ligação marítima com Marrocos só será efectuada se for positiva para Portimão", qual "prognósticos só no fim do jogo"! No reverso da moeda, o empresariado do nosso norte já tinha garantido uma média de 150 camiões diários que através de Portimão rumariam até ao norte deles, garantindo desde logo a viabilidade económica da empreitada.
Marrocos corre o risco de nos dar umas boas lições em pragmatismo e desenrascanço, condição que achamos ser um exclusivo português!
Politólogo/arabista. www.maghreb-machrek.pt.
Escreve de acordo com a antiga ortografia