Em abril de 1945, reuniu-se em São Francisco a Conferência que foi considerada a mais significativa de todos os tempos, para imaginar e organizar uma nova maneira de todos os povos se relacionaram no mundo, com igualdade, procurando um desenvolvimento geral, justo e equitativo, objetivo ao qual mais tarde Paulo VI chamaria o novo nome da Paz. .Infelizmente, durante meio século, a Ordem jurídica definida na então fundada ONU foi substituída pela Ordem dos Pactos Militares, que assegurou a guerra fria no Norte do globo, embora sem impedir as tremendas guerras marginais que as ambições de supremacias contraditórias alimentaram..Mas aconteceu que, logo após a queda do Muro de Berlim, se tornaram mais insistentes os apelos à reforma da ONU, cujos horizontes de intervenção e responsabilidade construtiva pareciam mais alargados, o que tudo implicava uma meditação atualizada sobre o nosso futuro, de novo desafiante..Foram numerosas as sugestões e propostas, algumas parcialmente acolhidas por iniciativas de secretários-gerais de alta qualidade de estadistas humanistas, mas, para o tema que procuramos destacar, é útil a releitura do projeto United Nations - A Working Paper for Restructuring, que ficou devido à persistência de Harold Stassen, o qual não deixou de salientar a memória dos delegados americanos de 1945, e do pensamento que fora de Franklin Roosevelt, e de muitos outros..Entre os organismos criados destacava-se já o Conselho Económico e Social, que desenvolveria uma atividade importante na história da organização, mas em todo o caso talvez menos presente na corrente da informação mundial porque o Conselho de Segurança, em vista da guerra fria, e do temor generalizado que a rodeou, ocupava mais as atenções e comentários. Mas Stassen, que se destacou entre muitos pelo seu passado na vida política americana, parece ter compreendido que a guerra fria tinha sido um intervalo que não podia considerar--se feliz em relação à projetada política de desenvolvimento global, e por isso pretendeu dar lugar ao facto de que "uma crescente opinião pública assume que as Nações Unidas necessitam de serem urgentemente reestruturadas para conseguirem os seus objetivos". Nesse projeto, publicado "sem reservas de copyright", o Capítulo X, reservado ao Conselho Económico e Social, aparece destacado com a anotação à margem de que "pode fazer recomendações para procurar o respeito, e a observância, dos direitos humanos e fundamentais liberdades para todos"..De facto não se inova a doutrina que a redação original já tem, mas punha-se em evidência a esperança de que o desenvolvimento, e portanto a paz, possam finalmente ter precedência sobre as exigências e deveres, entregues ao Conselho de Segurança. .Acontece que, na redação original (artigo 62), o Conselho Económico e Social poderá fazer e iniciar estudos e informações com respeito a assuntos internacionais de carácter económico, social, cul-tural, educativo, sanitário, e outros assuntos conexos, e fazer recomendações de tais assuntos à Assembleia Geral, aos Membros das Nações Unidas e aos organismos especializados interessados, formular projetos de convenções, e poderá submeter informação ao Conselho de Segurança..Pela década de 60 do século passado, já não havia grandes dúvidas em incluir a pobreza entre as inquietações da nova polemologia, com estudos de apoio a essa corrente, e não parece hoje desaconselhável que entre as causas de conflito se inclua a ganância, sem regulação, e até sem identificação de centros decisórios, a qual ataca a debilidade financeira dos países, e na Europa aprofunda a perigosa fronteira da pobreza, a norte do Mediterrâneo. .Quando os governos afirmam a globalidade da crise, talvez possam avaliar se é alguma entidade ou país, com limitação regional, que pode assumir lideranças sem fundamento, ou se o Conselho Económico e Social deverá ser chamado a pronunciar-se sobre os novos paradigmas éticos e jurídicos que esta situação sem precedentes está a exigir, até em nome da paz.