O conquistador do Pólo Sul derrotado pelo gelo
O seu sonho era conquistar o Norte, mas o seu nome acabou por ficar irremediavelmente associado ao Sul. O norueguês Roald Amundsen, que já tinha entrado para a história ao ser o pioneiro na travessia de barco da Passagem Noroeste (que liga o Atlântico ao Pacífico, através do oceano Árctico), foi o primeiro a atingir o Pólo Sul, a 14 de Dezembro de 1911, tendo 15 anos mais tarde sido também o primeiro a sobrevoar o Pólo Norte. Foi a bordo de outro avião, numa operação de resgate a um amigo preso no Árctico, que Amundsen desapareceu há 81 anos. O seu corpo nunca foi encontrado.
Foi aos 15 anos que Roald decidiu "irrecuperavelmente" ser "um explorador do Árctico". A culpa é de Sir John Franklin e do livro que escreveu sobre a sua desventurosa tentativa de cruzar a Passagem Noroeste. Sempre que podia, o jovem explorador percorria as montanhas que rodeavam Oslo, perto de onde tinha nascido a 16 de Julho de 1872, e dormia com a janela aberta. Preparava o seu corpo de 1,80 metros para no futuro cumprir o seu sonho.
Mas a mãe tinha outros planos para o seu quarto filho, que passava por mantê-lo afastado dos mares - ocupação do resto da família. Amundsen entrou para o curso de Medicina, mas não o chegaria a concluir. "A sua morte (...) quando eu tinha 21 anos salvou-a da triste descoberta que, de outra forma, teria feito, que as minhas ambições ficavam noutra direcção e que tinha feito poucos progressos a cumprir com a sua. Com grande alívio, deixei rapidamente a universidade e atirei-me de cabeça ao sonho da minha vida", escreveu na sua autobiografia.
Mas para se arriscar pela Passagem de Noroeste, Amundsen precisava de mais prática em condições extremas e do título de capitão. Depois de cumprir o serviço militar, trabalhou num barco que seguia para o Árctico e participou numa expedição à Antárctida, que durou dois anos. No regresso à Noruega, comprou finalmente o seu primeiro navio, o Gjøa, e pode finalmente fazer planos para cumprir o seu sonho de juventude.
Cruzar o oceano Árctico iria levar três anos (1903-1906), sendo que mais de metade do tempo Amundsen esteve parado com a sua equipa à espera que o gelo derretesse para conseguir passar. Foi nessa altura que viveu ao lado dos inuits, os esquimós, que lhe ensinaram muitas das técnicas de sobrevivência que lhe iriam ser muito úteis na conquista do Pólo Sul, anos mais tarde.
O Sul não era contudo o primeiro destino de Amundsen, que teve de mudar os seus planos quando soube que dois americanos tinham conquistado o Norte. A bordo do navio Fram - sem avisar investidores ou até o próprio Governo norueguês - rumou em direcção à Antárctida. Nos jornais, o britânico Robert Falcon Scott revelava os seus planos de ser o primeiro a chegar ao Pólo Sul. Numa paragem na Madeira, Amundsen enviou-lhe uma mensagem informando-o de que também ia a caminho. No final, Amundsen venceria a corrida até à latitude 90º sul por um mês e Scott perderia a sua vida no regresso.
Para o sucesso da missão contribuiu o bom tempo, mas também a preparação e o uso de trenós puxados por cem cães da Gronelândia (Scott usou póneis da Sibéria). Os cães foram sendo mortos para fornecer alimento aos outros animais. Às 15.00 de 14 de Dezembro de 1911, Amundsen e quatro outros membros da expedição chegaram à sua meta e plantaram a bandeira norueguesa no gelo da Antárctida.
De regresso a casa, Amundsen não pensava em reforma e não esquecia o seu primeiro objectivo o Pólo Norte. Não podendo ser considerado o primeiro a chegar lá por terra, virou-se para os aviões. Em 1926, e depois de algumas tentativas frustradas, foi o primeiro a atravessar o Árctico e a chegar ao Pólo Norte num avião, o Norge, desenhado pelo engenheiro italiano Umberto Nobile.
É o desaparecimento deste, numa expedição ao Árctico dois anos depois, que vai desencadear a operação de resgate, em que participou Amundsen. Nobile acabou por ser salvo, morrendo aos 93 anos em 1978, mas após uma última transmissão às 18.55 de 18 de Junho de 1928 nunca mais se soube do hidroavião Latham em que seguia o norueguês, então com 55 anos, que nunca se casou.