O condomínio fechado dos partidos
A ECFP ( Entidade de Contas e Financiamento de Partidos) deixou prescrever mais um ano de processos contra partidos.
Às vezes penso que não vale a pena questionar ou criticar estas demandas, ninguém liga absolutamente nada. Contudo não consigo ficar indiferente. A democracia tem os partidos no seu cume, se estes não derem o exemplo quem o vai dar?
Continuo a colocar o dedo nesta questão que considero essencial. Se todos os cidadãos têm que apresentar as suas declarações de IRS, assim como as empresas as suas contas. Qual a razão pela qual os partidos não têm que as apresentar e não sofrem as consequências por isso?
A democracia fica cara: partidos e bancadas na AR custam 24 milhões ao ano.
Subvenções para o funcionamento dos partidos políticos, dos grupos parlamentares e campanhas legislativas somaram, no final de quatro anos e meio da legislatura cerca de 116 milhões de euros.
Ao criticar esta despesa não estou contra que se gaste dinheiro com a democracia e sou um anti-democrático. Penso como Daniel Innerarity (professor catedrático da Filosofia Política e Social na Universidade do País Basco): "pior que haver maus partidos, é não haver partidos". Mas mete-me muita confusão numa democracia gastar-se tanto dinheiro público!
Algo está mal e deve ser repensado e alterado. A abstenção continua com números alarmantes. Uma democracia eficiente cativava mais eleitores para votar. Mas isso não acontece antes pelo contrário.
O Estado é dirigido por pessoas dos partidos. A política portuguesa é labiríntica e sui generis, faz-me lembrar um condomínio fechado.
Os sucessivos governos criam e nomeiam entidades de fiscalização, mas depois ou por falta de verbas ou falta de alterações legislativas ou por falta de meios humanos, essas entidades não funcionam.
É o país faz de conta! Qual é a sensação de um cidadão ou de uma empresa que cumpre com as suas obrigações, perante este episódio?! Estupefacção e que há dois países: os do condomínio fechado dos partidos que fazem as leis a seu bel-prazer e depois não as cumprem; fora do condomínio fechado estão cidadãos e empresas normais, que sabem que ao mais pequeno deslize o Estado avança para eles sem contemplações. O Estado não é uma pessoa de bem.
Eu, sinceramente, já não sei se vale a pena incomodar-me com este tipo de assuntos, sinto-me cansado de estar a pregar no deserto. Nada se modifica e ninguém faz o menor caso.
Todavia, não consigo conter-me e deixar de denunciar este tipo de situações em que os partidos vivem num mundo que não é o nosso.
Acredito que a influência é mínima ou zero, mas estou certo de que, se não nos incomodarmos um pouco e estivermos atentos ao que se passa, seria ainda pior.
Os políticos têm que nos prestar contas e explicar as suas decisões. Neste caso, só tinham uma coisa a fazer pagar as multas respectivas e serem penalizados. Só isso! O exemplo, a lição, os ensinamentos fazem falta à política portuguesa.
O âmago da nossa democracia, passa pelo exemplo.
O exercício da nossa democracia tem de ser revisto e o seu custo ser menor. A nossa democracia fica muito cara aos portugueses e a grande maioria não se revê nesta " democracia", que se constata pela enorme abstenção que é o maior partido português.
Eu sou apologista que se repense os gastos com a nossa democracia: campanhas eleitorais; financiamento dos partidos; apelo ao voto; pensões vitalícias, etc.
No fundo que se faça uma auditoria à nossa democracia.