No Brasil, um dos temas do momento é a foquinha chamada Kerlon. Explicando melhor: Kerlon é o jovem craque do Cruzeiro, campeão sul-americano de sub-17, em 2005, e a "foquinha" é o drible enxovalhante que ele popularizou. Consiste em ziguezaguear por entre pernas adversárias com a bola colada à cabeça até encontrar espaço para a pousar no chão. Ou, mais amiúde, até ser derrubado brutalmente pela patada de um defesa ofendido..O debate subiu de tom depois de um At. Mineiro-Cruzeiro, há duas semanas. Kerlon recebeu a bola, olhou em volta e toda a gente, incluindo o narrador de serviço ("Será que vem o drible da foquinha?!", gritava) percebeu o que estava para acontecer. A única dúvida era saber se Kerlon ia ser derrubado ao primeiro, segundo, ou terceiro adversário enfurecido. Foi ao segundo, um defesa de apelido Coelho - o Coelho e a Foquinha, a imaginação de La Fontaine não chegaria a tanto... - sem feitio para levar desaforo para casa. A entrada de ombro em riste, que lhe valeu quatro meses de suspensão, deixou Kerlon no chão, à procura do fôlego, e iniciou um sururu que se prolonga até agora com palavras. .A questão passa pela ética entre jogadores: há certas habilidades que se fazem nas peladinhas, entre sorrisos e provocações, mas que de profissional para profissional são consideradas falta de respeito. A "foquinha" é uma delas, tal como também as "pedaladas" dos Ronaldos e a finta de elástico à Ronaldinho o podem ser, dependendo do contexto..A avaliar pela profusão de jogadores que assumiram a defesa de Coelho, garantindo que naquelas circunstâncias fariam igual ou pior, o comportamento mais reprovável terá sido o de Kerlon. É, acusam, uma provocação, um abuso da habilidade natural, ofensivo para uma profissão que, para a esmagadora maioria, é sinónimo de suor, trabalho duro e demais adoçantes e substitutos do génio. Do lado oposto da barricada estão todos os outros: os que gostam do futebol precisamente pela expectativa de serem confrontados com rasgos de talento, mesmo que acompanhados pela insolência de alguém que calça chuteiras e imita uma foca amestrada. .Para os conhecedores de futebol poucas coisas são mais desprezáveis do que os floreados inúteis, os falsos dribles que não saem do sítio, o novo-riquismo de cruzamentos "de letra" para impressionar pacóvios. Mas, a partir do momento em que serve os interesses da equipa, a arrogância do talento, em forma de "foquinha" ou de outro animal qualquer, ganha uma legitimidade que a fúria dos adversários só reforça. Com apenas 19 anos, Kerlon pode, portanto, vir a ter toda a razão do mundo. Mas só quando a sua "foquinha" se traduzir em golos, vitórias e momentos de lenda. Para já, Coelho e os seus apoiantes são os guardiões do templo da imortalidade, que separa Maradona de um qualquer brinca-na-areia da Caparica..Arsène Wenger.É um dos melhores detectores de talentos do futebol mundial e já conquistou um lugar de destaque na história do Arsenal. O eclipse dos últimos anos coincidiu com a explosão do fenómeno-Mourinho e é justo que a saída de cena do técnico português coincida com o regresso de Wenger à ribalta. Enquanto o Chelsea procura uma nova identidade, o Man. United espera por uma enfermaria desanuviada e o Liverpool tenta encaixar avançados num futebol de tracção atrás, o Arsenal vai dominando a Liga, com muitos golos e uma nova geração a despontar. Este sábado, o pequeno dérbi com o West Ham é mais um teste à consistência de Fabregas e companhia..Mancini.Ao contrário de Wenger, que convence mesmo perdendo, Roberto Mancini continua com tudo por provar, apesar de dois tristes títulos no bolso. O técnico do Inter, que viu Luís Figo dar mais uma demonstração de classe a meio da semana, está cotado, nas bolsas de apostas, como a mais provável vítima do "fantasma" Mourinho. Este sábado, uma eventual derrota no choque de líderes com a Roma, do "outro" Mancini, pode reforçar ainda mais essa posição.|.*Director adjunto do Maisfutebol