Pode um escritor criar o seu próprio domínio cinematográfico? Pois bem, vale a pena responder afirmativamente, quanto mais não seja porque temos o exemplo próximo do inglês Ian McEwan: foi ele que escreveu o argumento de A Balada de Adam Henry, tendo como base o seu romance homónimo (ed. Gradiva)..Trata-se de um reencontro com o cineasta Richard Eyre, também nome fulcral do teatro britânico das últimas décadas (sem esquecer as suas realizações para televisão). Foi, afinal, McEwan que escreveu o argumento de A Verdade dos Factos (1983), precisamente a primeira realização cinematográfica de Eyre. A Balada de Adam Henry centra-se na figura dramática de um rapaz que sofre de leucemia e, por convicções religiosas, recusa uma transfusão de sangue. Emma Thompson interpreta a juíza que deve pronunciar-se sobre o caso num filme que, além de recriar de forma impecável as convulsões do livro, propõe a revisitação (que é também uma forma de reinvenção) de um cinema que não tem complexos do seu classicismo - aqui se celebra o valor das palavras, acreditando sempre na maravilhosa capacidade de transfiguração dos seus intérpretes..Esta é também a semana em que chega ao mercado um dos títulos mais importantes do último Festival de Cannes, entretanto oficialmente apresentado como representante da Polónia a uma nomeação para o Óscar de melhor filme estrangeiro. Chama-se Guerra Fria porque, de facto, as convulsões entre o Ocidente e o Bloco de Leste são o seu fundamental pano de fundo - de qualquer modo, o essencial tem que ver com as vivências de um casal, magnificamente interpretado por Joanna Kulig e Tomasz Kot, apanhado nesse turbilhão histórico. Convém lembrar que o realizador, Pawel Pawlikowski, já ganhou um Óscar, naquela mesma categoria, com o também brilhante Ida (2013)..Surgem ainda nas salas: Operação Shock and Awe, thriller político assinado por Rob Reiner; Zoe, de Drake Doremus, melodrama sobre um mundo de seres humanos e robôs; e ainda A Casa junto ao Mar, drama familiar do francês Robert Guédiguian que valeu a Anaïs Demoustier uma nomeação para o César de melhor atriz secundária.