Os portugueses acompanharam pela televisão, pela rádio e pelos jornais o debate na Assembleia da República do Orçamento de Estado para 2022 com um interesse como provavelmente nunca antes houve, porque a incerteza sobre a sua aprovação se manteve até ao último minuto..E este suspense manteve-se porque ninguém queria acreditar que o Orçamento pudesse ser chumbado, porque não havia razões de peso que justificassem que isso acontecesse, bem pelo contrário. Desde logo, porque estávamos perante um bom orçamento, com mais 6 mil milhões de euros que o orçamento anterior, com imensas medidas para garantir o aumento do rendimento dos portugueses, e também porque a estabilidade política era fundamental para aplicar os fundos europeus da "bazuca" na dinamização do país. Além disso, o país começava a recuperar a bom ritmo da crise provocada pela pandemia, que atingiu tão fortemente a atividade económica. O facto de termos hoje o desemprego mais baixo das últimas décadas, 6,4 por cento, é um sinal evidente sobre a pujança da retoma..E depois, porque aumento do salário mínimo previsto era de 40 euros, o maior na história da nossa democracia, as pensões até 1097 euros teriam um aumento extraordinário de 10 euros, as creches passariam a ser progressivamente gratuitas, o que permitira uma enorme poupança a milhares de famílias, entre muitas outras coisas. Medidas que certamente os partidos de direita nunca pensariam tomar..Por isso, nas ruas, nos cafés, em todo o espaço público, as pessoas falavam sobre a possibilidade do Orçamento chumbar como uma perfeita loucura, um ato gratuito e irresponsável em que os prejudicados seriam todos os portugueses e a nossa imagem e prestígio internacional..O Governo esteve meses a negociar com os partidos de esquerda e até aceitou propostas que não tinham nada a ver com o Orçamento, como em relação ao código do trabalho. E percebia-se por aí e por outras propostas do BE e do PCP, que parecia que a decisão de chumbar o orçamento já estava tomada há muito tempo. De resto, já no ano anterior, em plena crise provocada pela pandemia de covid-19, o BE tinha recusado a viabilização do orçamento. Se houve ou não relação com o facto de se ter tornado um partido quase insignificante nas eleições autárquicas que, entretanto, se realizaram, nunca se saberá com certeza..Até ao último momento, o Governo mostrou disponibilidade para levar o Orçamento para a especialidade, para fazer um derradeiro esforço para ir ainda mais ao encontro dos partidos da esquerda. Mas nada. Sem resultado perante a intransigência daqueles partidos, que querem tudo sem dar nada em troca, como se de uma ditadura das minorias se tratasse, sem sentido da proporção..O país terá assim de ir para umas eleições legislativas antecipadas que ninguém desejava e que só atrapalham o desenvolvimento do país, que põe em suspenso tantas medidas previstas no orçamento e iniciativas legislativas na Assembleia da República, entre elas várias da área das comunidades portuguesas. Tanta insensatez, claro, merece resposta inequívoca. É preciso agora que as pessoas compreendam a situação que o país vive, as consequências do chumbo do orçamento, o perigo de uma direita destroçada ajudar a extrema direita a crescer, com o precioso contributo dos partidos à esquerda do PS..Mais uma vez, o Partido Socialista surge como o grande referencial de estabilidade e responsabilidade. E daí que, perante esta situação inusitada, o Primeiro-Ministro António Costa, no discurso de encerramento do debate do orçamento, tenha feito apelo a uma maioria reforçada, duradoura e estável. A alternativa a isso é o país cair na ingovernabilidade, sabe-se lá por quanto tempo, o que será muito pior para todos os portugueses, vivam eles no país ou no estrangeiro..Deputado do PS