Aeliminação dos "inimigos de Israel" não é novidade para este homem que fez carreira no exército do Estado judaico. E nem deve ter pestanejado quando em Janeiro deu luz verde ao comando da Mossad para avançar com a execução de Mahmoud al-Mabhouh, um dos fundadores da ala militar do Hamas que usava o Dubai como porta de entrada para os seus negócios de armas com o Irão. Sabia-o Meir Dagan, o filho de sobreviventes do Holocausto, que em 2002 foi escolhido pelo primeiro-ministro Ariel Sharon para chefiar a Mossad e a gerisse "com a faca nos dentes"..Nascido a bordo de um comboio na Sibéria, em 1945, Dagan partiu , aos cinco anos, com a família para Israel, fixando residência em Bat Yam, a sul de Telavive - onde, hoje e num edifício banal, se encontra a sede da Mossad, os serviços secretos de Israel no exterior..Casado, pai de três filhos, Meir Dagan, que devido a um ferimento de guerra tem de usar uma bengala para caminhar, é uma pessoa que não gosta de dar nas vistas. Ao contrário de alguns dos seus antecessores que tinham um apreço especial por recepções em embaixadas estrangeiras, restaurantes e hotéis de luxo - quando no exterior -, este homem, que combateu na Guerra dos Seis Dias (1967) e nas campanhas do Líbano, é quase espartano nos seus gostos. No estrangeiro, gosta de hotéis confortáveis mas não luxuosos e quanto a restaurantes … é vegetariano. Em Israel, prefere passar o tempo livre com a família e os amigos. E, para descomprimir da tensão diária, utiliza a pintura..O seu ar pacato e quase inofensivo desaparece, porém, quando Meir Dagan tem em cima da mesa a defesa do país que o acolheu. Então, torna-se frio, brutal mesmo. Aliás, existe um consenso entre analistas internacionais que a Mossad intensificou a sua política de eliminação dos presumíveis inimigos de Israel desde que Dagan assumiu a chefia dos serviços em causa. A campanha em causa também encontra justificação, admitem alguns desses analistas, na necessidade de recuperar a reputação do mais conhecido serviço secreto a nível internacional..Uzi Mahnaimi, jornalista do britânico The Times, conta num artigo que Dagan tem na parede do gabinete uma fotografia que sintetiza a sua filosofia: trata-se de um velho judeu, de pé na beira de uma trincheira, a cuja cabeça um oficial nazi aponta a arma. "Este velho judeu é o meu avô", conta o chefe da Mossad a quem o visita e adianta: "Temos de ser fortes, usar a inteligência, e defender-nos de forma a que o Holocausto não volte a acontecer"..Desde que Dagan assumiu a chefia da Mossad registaram-se, de facto, uma série de mortes de responsáveis do Hamas e do Hezbollah. O dedo foi sempre apontado aos serviços secretos israelitas embora nenhum dos seus agentes tenha sido detido ou desmascarado como aconteceu em Setembro de 1997 na Jordânia. Então dois agentes, com passaportes canadianos, tentaram assassinar Khaled Meshaal, um dos líderes políticos do Hamas. Tratou-se de um fiasco que ditou o afastamento do então chefe da Mossad e o esfriar das relações entre a Jordânia e Israel. Dagan apostou que tais situações não aconteceriam no seu consulado. E quase o conseguiu, não fossem as câmaras de vigilância do hotel do Dubai que registaram os movimentos do comando - de 26 pessoas - que eliminou Mabhouh..Oficialmente, nenhuma dessas execuções foi obra da Mossad, cujo chefe responde perante o primeiro-ministro de Israel. Essa recusa em assumir os factos é, às vezes, anulada pelas próprias acções destes serviços secretos a quem os efectivos chamam "instituto". Por exemplo, há dois anos, Imad Mughniyeh, um dos fundadores do grupo xiita libanês Hezbollah, morreu na explosão do seu carro, não longe da sede dos serviços secretos sírios, em Damasco. No funeral, a mãe do morto lamentava-se do estado em que ficou o filho e de não ter nada que o fizesse recordar. Dias depois, fotografias do falecido líder chegavam às mãos da desolada mãe num envelope de remetente anónimo mas que tinha o carimbo dos correios da cidade israelita de Haifa....O homem que defende que "nenhum terrorista se deve sentir seguro seja onde for" e cujo cargo na chefia da Mossad foi confirmado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, tem uma lista de inimigos. Alguns dos quais afastou com a frieza com que dá luz verde ao comando Kidron - encarregues de eliminar o inimigo. O mais recente episódio conhecido data de há três anos quando Dagan demitiu um adjunto, curiosamente, aquele que deveria suceder-lhe em 2008. "N", como era conhecido, está afastado da corrida à liderança, resta saber se não considera que a vingança se serve fria. A acontecer, estará entre os muitos que defendem o afastamento imediato de Dagan, o espião que gosta de pintar e de escultura.