O 'chef' falido que já matou um cordeiro em direto e que defende a alimentação saudável

Os 25 restaurantes de Jamie Oliver estão sob administração da KPMG. É o final do império de um <em>chef </em>mediático que escreveu livros, participou em programas televisivos e criticou outros cozinheiros como Gordon Ramsay.
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O seu primeiro programa de televisão tinha um título que já antecipava uma vida profissional mediática: The Naked Chef (O Chefe Nu). A partir destas emissões, na BBC em 1999, a carreira de Jamie Oliver não parou de crescer: escreveu livros, participou em programas de televisão, defendeu a alimentação saudável nas escolas e abriu restaurantes, 25 em Inglaterra.

Mas todo este mediatismo deste chef não evitou uma das principais notícias desta terça-feira: segundo o diário britânico The Guardian, a consultora KPMG vai assumir a gestão dos restaurantes de Oliver pois as perdas na ordem dos 22,8 milhões de euros no ano passado levaram o grupo para a insolvência. Com esta decisão os 25 restaurantes, 23 de comida italiana, ficam em risco, tal como cerca de mil empregos.

Jamie comentou a decisão na sua conta no Twitter. "Estou devastada por os nossos restaurantes em Inglaterra terem ficado sob gestão judicial. Estou triste e gostaria de agradecer a todas as pessoas que colocaram as suas almas neste negócio ao longo dos anos", escreveu este natural de Clavering (Essex, sudeste do Reino Unido) pela manhã. Depois o silêncio.

A seis dias de comemorar o 44.º aniversário (nasceu a 27 de maio de 1975) Jamie Oliver fica sem razões para festas.

Em declarações ao Guardian, acrescentou ter lançado o "Jamie's Italian em 2008 com a intenção de ser uma oferta disruptiva positiva para o mercado de mid-market na high street do Reino Unido, com grande valor e ingredientes de maior qualidade, melhores padrões de bem-estar animal e uma incrível equipa que compartilhou a minha paixão por boa comida e serviço". "E nós fizemos exatamente isso", concluiu.

A fama na TV, um cordeiro e um best seller

O percurso profissional de Oliver começou num restaurante em Londres chamado Neal Street, depois passou para sous-chef numa casa chamada River Café, em Fulham. Foi nesta altura que a produtora de televisão Patricia Llewellyn, da empresa Optomen, o desafiou para participar num programa. E assim surge The Naked Chef. O trabalho na televisão incluiu um documentário - Jamie's Kitchen - que lhe valeu um convite do antigo primeiro-ministro inglês Tony Blair para ir ao número 10 de Downing Street. Em junho de 2003 tornou-se membro da Ordem do Império Britânico.

Mas, nem sem a sua passagem pela televisão foi pacífica. Em 2005 os defensores dos direitos dos animais criticaram-no por ter matado um cordeiro em direto sem sequer ter anestesiado o animal. A associação de defesa dos direitos dos animais PETA sublinhou esperar que a atitude tivesse o condão de transformar o "carnívoro mais obstinado em vegetariano".

Aventurou-se também pela escrita e o seu livro Jamie's 30 Minute Meals tornou-se um best seller.

Há 14 anos, em 2005, decidiu começar uma campanha - denominada Feed Me Better - através da qual pretendia que as escolas inglesas disponibilizassem alimentos saudáveis às crianças, ideia que acabou por ser apoiada pelo governo. Esta iniciativa acabou por lhe garantir o título de "figura política inspiradora de 2005".

A aposta em cozinhar alimentos frescos e nutritivos levou-o a uma nova série televisiva onde viajava por Inglaterra para ensinar as pessoas a preparar refeições saudáveis.

Nesta altura, tanto empreendedorismo fez com que integrasse a lista do The Sunday Times dos britânicos mais ricos com menos de 30 anos.

Os problemas e as críticas a Gordon Ramsay

Com as inaugurações de restaurantes a sucederem-se - o sucesso estava a ser de tal ordem que a marca foi vendida para países como os EUA, Austália, Canadá, Chipre, Islândia, Irlanda, Rússia, Turquia, Singapura, Hong Kong e Portugal - em Lisboa existe o Jamie's Italian, na Praça do Princípe Real - surgiram também os problemas e em janeiro de 2017 o diretor executivo do grupo, Simon Blagden, anunciou o encerramento de seis casas.

E em 2018 a insolvência foi evitada depois de Oliver ter injetado cerca de 15 milhões de euros da sua fortuna - que em 2014 estava estimada em 270 milhões de euros - para regularizar dívidas.

À parte dos problemas financeiros, Jamie Oliver teve alguns dissabores quando criticou outros chefs como Marco Pierre White e o também mediático Gordon Ramsay, com quem manteve uma disputa sobre quem seria o chef mais mediático e com mais poder tendo até acusado aquele de ter inveja do seu sucesso.

Como nunca esteve imune a crítica Oliver ouviu acusarem-nos de ter uma visão irrealista da pobreza no Reino Unido, nomeadamente por parte do jornalista Jack Monroe que o acusou de apoiar "mitos prejudiciais de que os pobres são apenas pobres porque gastam o seu dinheiro em escolhas erradas".

As biografias conhecidas de Jamie Oliver destacam, além da sua luta pela mudança de tipo de alimentação, dos restaurantes que abriu, de ter sido jurado num programa de Oprah Winfrey em 2008 e da sua influência na sociedade britânica que devido à dislexia grave de que sofrerá só leu o seu primeiro romance - Catching Fire - em 2013, aos 38 anos.

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