O catalexit tem de ser negociado

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A pulsão nacionalista levou milhares às ruas de Barcelona. É evidente que a autonomia que os catalães conquistaram com a democracia espanhola, reforçada em várias ocasiões, já não serve a uma parte significativa da população. Diz-se que ainda haverá uma maioria que não quer a independência, mas isso é apenas conversa porque nunca perguntaram aos catalães se a queriam e a Constituição espanhola não deixa que essa consulta seja feita.

A resposta firme de Madrid à ideia aprovada pelas autoridades catalãs de fazer esse referendo apareceu como a única resposta possível, mas a pulsão centralista do governo espanhol acaba por funcionar como oxigénio que alimenta um fogo, que até os políticos mais experimentados terão dificuldade em controlar. Com cravos ou sem cravos é muito mais fácil pôr pessoas na rua do que tirá--las de lá. Os políticos da Catalunha e de Madrid estão, pelo menos por agora, apenas a ganhar tempo para si próprios.

A independência da Catalunha nunca foi um assunto que dissesse respeito apenas aos catalães, é evidente que não. Como a independência do País Basco não diz apenas respeito aos bascos nem a da Galiza aos galegos. Estiveram todos juntos presos numa ditadura, libertaram-se juntos e em democracia é juntos que têm de encontrar uma solução. Se se entenderem sobre a possibilidade de negociar uma separação, então sim, serão apenas os catalães a decidir se querem continuar ou sair.

Porque têm uma língua e porque têm uma história e uma cultura, muitos catalães sentem-se como fazendo parte de uma nação, mas o que os leva a esta pulsão nacionalista é a injustiça que dizem existir na relação da riqueza que produzem com a riqueza que fica na Catalunha. Juntos sempre foram mais fortes, mas a nordeste há quem entenda que é agora mais favorável fazer a viagem sozinho. Não vale a pena Madrid pensar que pode impor-se pela força nem Barcelona acreditar que lhe basta querer sair. O catalexit vai ter de ser negociado, primeiro politicamente e depois financeiramente.

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