O casamento de conveniência entre Trump e o lóbi das armas

NRA defendeu republicano e gastou três milhões em anúncio a acusar Hillary de querer deixar americanos "indefesos". Na última polémica, Trump acusou Obama de ter fundado o ISIS
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Em 2012, Donald Trump defendia proibir a venda de espingardas de assalto. E em maio passado, o já candidato republicano às presidenciais de novembro nos EUA garantia que indivíduos na lista dos suspeitos de terrorismo não deviam ter acesso a armas. Mas desde então, o magnata deu o dito pelo não dito, afirmou que se quem estava na discoteca de Orlando palco em junho de um tiroteio estivesse armado, tudo teria sido diferente e gerou polémica ao afirmar que os defensores da Segunda Emenda da Constituição - que garante o direito dos americanos a uma arma - são os únicos capazes de travar Hillary Clinton.

Uma reviravolta ideológica que explica porque a NRA, o poderoso lóbi das armas americano, foi dos primeiros a defender Trump. Nada de ameaças de morte contra a candidata democrata, garantiu a organização no Twitter, o que Trump fez foi um simples apelo ao voto tendo os defensores das armas como alvo. "Há uma coisa que podemos fazer no dia das eleições: aparecer e votar". E não se ficou por aqui. Fundada em 1871 e lóbi político desde 1934, a NRA tem um orçamento anual de 250 milhões de dólares e não hesitou em gastar três milhões num anúncio contra Hillary em que acusa a ex-secretária de Estado de ser "uma hipócrita" que quer deixar os americanos "indefesos".

Mais homem de golfe que de caça, este casamento de conveniência entre Trump e a NRA terá sido influenciada pelos filhos - Donald Jr. e Eric -, cujas fotos de caçadas em África causaram polémica nos últimos meses. E se a Trump dá jeito ter o apoio do lóbi das armas, a NRA fará tudo para que seja o republicano a chegar à Casa Branca e não a democrata Hillary, que várias vezes apelou ao maior controlo na venda de armas.

A cair nas sondagens nacionais - a última da Bloomberg dá 50% para Hillary e 44% para Trump - o republicano teve uma semana difícil, com vários eleitos do seu partido a criticarem os seus ataques contra os pais de um soldado muçulmano morto no Iraque e alguns a garantir que não votarão nele a 8 de novembro. E depois de na terça-feira ter gerado uma onda de críticas ao garantir que os defensores da Segunda Emenda são os únicos capazes de travar Hillary, ontem Trump voltou a estar no centro da controvérsia.

Na CNBC, o candidato repetiu a acusação que fizera na véspera na Florida: o presidente Barack Obama fundou o Estado Islâmico (ou ISIS). "Ele é o fundador do ISIS. Ele fundou o ISIS. E a co-fundadora é Hillary, a Corrupta", acusou Trump. O milionário criticou a decisão do presidente de retirar as tropas do Iraque em 2011, considerando que foi um "desastre". Nascido em 2004, um ano depois da invasão americana do Iraque, o grupo agora liderado por Abu Bakr al-Baghdadi ganhou projeção global devido à sua brutalidade. Em 2014 declarou um califado islâmico na Síria e Iraque, onde ainda domina vasto território. Com uma propaganda eficaz, o ISIS não só atraiu milhares de combatentes estrangeiros, como tem reivindicado atentados no Ocidente, como os de Paris, Bruxelas ou Nice.

Questionado sobre o que o leva a acusar Obama de ter fundado o grupo terrorista, Trump defendeu-se afirmando: "Tem algum mal dizer o que eu disse? Porque é que as pessoas se queixam de eu ter dito que Obama fundou o ISIS? A única coisa que faço é dizer a verdade".

Enquanto os apoiantes admiram a honestidade e estilo combativo de Trump, no partido há quem preferisse ver o candidato seguir o guião dos seus discursos. É o caso do congressista Sean Duffy que na MSNBC apelava: "Não saia do guião. Leia o teleponto e vai sair-se bem!"

São cada vez mais as notícias de que o Partido Republicano estará à procura de um substituto caso Trump desista da corrida. E o New York Daily News deixou um apelo na primeira página nesse sentido.

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