O bordado verde do Jardim de Malta entra em restauro

A topiária - a arte de podar plantas em formas ornamentais - volta a entrar no quotidiano da antiga residência real.
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As plantas num jardim barroco como o Jardim de Malta no Palácio Nacional de Queluz "não podem ir além dos 20 centímetros", explica Nuno Oliveira, diretor do património natural da Parques de Sintra, sobre uma das primeiras regras a saber quando se fala de jardins barrocos como aquele que, a partir de segunda-feira, vai começar a ser recuperado. "Em Versalhes têm 15", acrescenta a historiadora Denise Pereira da Silva. Os números são universais, estão escritos na tratadística e é a essa que estes especialistas recorrem quando se trata de recuperar estes espaços.

Com as obras do jardim, na fachada interior do palácio, entre a Sala do Trono, a Sala da Música e os Aposentos da Princesa, a topiária - a arte de podar plantas em formas ornamentais - volta a entrar no quotidiano desta antiga residência real.

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O Jardim de Malta será totalmente refeito para ganhar o aspeto de tapete verde bordado que a cartografia do palácio descreve. As plantas que aqui existiam foram acometidas por uma praga que tem flagelado estas espécies. Impossibilitados de as desbastar sem as matar, vão ser transplantados para outras zonas dos jardins de Queluz. "Alguns vão para o Bosquete", junto à cascata, a próxima zona a ser alvo de recuperação, seguindo o cronograma da Parques de Sintra.

A murta foi a escolha para o novo tapete, já que é desaconselhada a introdução de buxo nestes jardins, explica Denise Pereira da Silva. A obra, no valor de 500 mil euros, segundo Nuno Oliveira, deverá estar concluída em dezembro.

E, quando estiver pronto, bastará ao visitante subir os degraus que circundam o jardim para desfrutar do desenho do jardim, como preveem, mais uma vez, os tratados dos jardins barrocos.

O Jardim de Malta começa por indicação de D. Pedro, irmão do rei D. José, por volta de 1754, com a encomenda de árvores e plantas, importadas da Holanda, e a chegada do jardineiro holandês Geraldo van den Kolk, em vésperas do casamento do Senhor do Infantado com a sobrinha, a futura rainha D. Maria I, em 1760, como está descrito nos tapumes em torno do jardim, em desenho e através de uma animação. "Mantemos as obras abertas", sublinha Nuno Oliveira, lembrando um dos lemas da Parques de Sintra.

Quando a obra estiver concluída quatro lagos que estão deslocados serão reinstalados aqui. Manter-se-ão as estátuas que vieram de São Vicente de Fora.

A experiência ganha no Jardim de Malta há de ser usada no Jardim Pênsil, o outro jardim de aparato de Queluz, que, por não estar em mau estado de saúde, está a ser desbastado "ano após ano". Este espaço, como explica Denise Pereira da Silva, foi objeto de um "excelente" parecer da Direção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, liderada por Raul Lino, época em que o jardim foi alvo de uma grande intervenção.

(Corrigido no dia 28-02-2017, às 12:47: a murta é a espécie que vai ser usada no reabilitado Jardim de Malta)

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