O "big brother" da segurança. Em todo o lado e em tempo real
Chama-se tecnicamente Centro de Coordenação e Controlo Estratégico, (CCCE), mas ali funciona uma espécie de "big brother da segurança interna" onde as autoridades policiais podem ter uma visão em tempo real de tudo o que está a acontecer nos espaços relacionados com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e a visita do Papa Francisco.
Localizado no edifício do Sistema de Segurança Interna, o CCCE é "a Sala de Situação das Salas de Situação", como lhe chama o secretário-geral do SSI, Paulo Vizeu Pinheiro, o "maestro" daquela que é, como o próprio classifica, a maior e mais complexa operação de segurança do nosso país.
Neste comando têm assento os cerca de 40 oficiais de ligação de todas as forças e serviços de segurança envolvidos na JMJ, dos organismos de emergência e socorro, como é o caso do INEM e da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, e das Forças Armadas.
Integra o CCCE também o Centro de Informações e Cooperação Policial Internacional, uma Célula de Comunicação Pública e o Gabinete de Crise (este só será ativado em caso de incidentes).
Previsto na Lei de Segurança Interna desde 2008 com a designação de "Sala de Situação", para "acompanhar situações de grave ameaça à segurança interna", foram precisos 15 anos, quatro secretários-gerais e a JMJ para este CCCE existir.
Ontem, numa curta visita a este espaço, os jornalistas tiveram oportunidade de ouvir do coordenador do CCCE, João Pestana, superintendente da PSP, algumas das principais mais-valias deste Centro.
Na "Sala de Crise", onde nos reunimos, três grandes écrans iam passando várias informações. Desde imagens de estradas da cidade e de zonas, como o Passeio Marítimo de Algés; a dados estatísticos atualizados sobre as inscrições e chegadas de peregrinos - naquele momento o número de inscritos era perto de 350 mil (muito longe dos 600 mil que inicialmente tinham feito um primeiro registo); mas também dados sobre o número de telemóveis ativados nos vários locais onde decorriam eventos ligados à JMJ (como o Parque Eduardo VII ou Belém).
Neste último local estavam 24 500 (os dados permitiam até saber que o maior número eram de cidadãos italianos), mas o oficial da PSP sublinhou que "quando o Papa Francisco lá chegou, eram cerca de 40 mil pessoas".
Esta contagem, explicou, "é muito importante para se fazer a avaliação dos fluxos de pessoas e a gestão das multidões". Esta capacidade não permite identificar números em concreto, apenas os cartões SIM ligados, garantiu.
Mas não é só. Este "big eye" está ligado às Salas de Situação das forças de serviços de segurança, designadamente da PSP, GNR e PJ, bem como aos Postos de Comando que foram instalados nos recintos de Fátima, Parque Tejo e Parque Eduardo VII.
Estes, através de câmaras de videovigilância instaladas em alguns locais e, principalmente, através de "vários" drones (o oficial não quis divulgar o número exato) que sobrevoam as áreas relacionadas com a JMJ ou os locais por onde o Papa Francisco irá passar, permitem que as autoridades que estão no CCCE possam acompanhar em tempo real qualquer incidente que ocorra, seja de natureza criminal, seja de emergência e socorro.
Paulo Vizeu Pinheiro frisou que o CCCE, que durante a jornada está operacional 24 horas por dia, "não tem precedentes" e "implicou a articulação de 33 entidades diferentes".
O superintendente Pestana sublinhou que se trata "de um modelo que foi desenvolvido no último ano e meio, com três exercícios de preparação, com lições aprendidas. Quem está no terreno responde a aspetos de detalhe, não tem um quadro global e isso consegue-se aqui".
E se Lisboa e Loures vão herdar da JMJ um renovado Parque-Tejo, as autoridades que constituem o SSI vão ficar com uma sala de situação como nunca tiveram.