O beijo num sapo que é um beijo da vida
Faço minhas as palavras do meu colega Roger Ebert, do Chicago Sun-Times, sobre A Princesa e o Sapo: "Sem 3D! Sem óculos! Sem bilhetes mais caros! Sem frenesins de acção sem sentido! E... céus! Uma história! Personagens! Um enredo!"
É claro que Ebert está a exagerar, porque os filmes de animação digital em 3D não têm sido tão maus como isso. Mas numa altura em que todos os grandes estúdios americanos decidiram desistir da animação tradicional para se dedicarem só à animação em 3D (no que estão a ser seguidos por alguns produtores europeus), dá gosto ver que a Walt Disney, cujo nome está umbilicalmente associado à escola da animação clássica, onde a mão é mais importante que o software, continua fiel ao seu espírito, prática e pergaminhos artísticos.
Realizado por Ron Clements e John Musker, dois habitués da casa (A Pequena Sereia, Alladin, Hércules), A Princesa e o Sapo tem uma personalidade cinematográfica, um esmero gráfico, um recheio de enredo, uma identidade musical, um ramalhete de personagens principais e secundárias, um vilão e um elemento de terror sobrenatural onde se lê "Disney" por todo o lado (o de Branca de Neve e os Sete Anões, mas também do renascimento dos estúdios nos anos 80, graças a Jeffrey Katzenberg).
Curiosamente (ou nem por isso...), os responsáveis por A Princesa e o Sapo e pela continuidade da animação tradicional na Disney são os homens que, na Pixar, popularizaram e impuseram a animação por computador na indústria cinematográfica. O beijo que Tiana, a heroína negra de A Princesa e o Sapo dá num sapo, é também o beijo da vida dado na animação clássica.