O artista de bastidores que lula pôs ao serviço de Dilma
Quando Lula da Silva foi eleito pela primeira vez presidente da República no Brasil, em 2002, António Palocci Filho emocionou-se. A vitória do amigo e companheiro do Partido dos Trabalhadores (PT) era pessoal. E chegou a ser o homem da transição do Governo Fernando Henrique Cardoso para a batuta Lula.
Oito anos depois, Palocci, que foi um dos fundadores do PT em 1980, continua arraigado à topografia do Palácio do Planalto, em Brasília. Foi ele agora, de novo, quem fez a ponte para a transição Lula-Dilma Rousseff, a nova presidente do Brasil, e nomeado seu legítimo braço-direito na Casa Civil, o segundo latifúndio de poder mais disputado no Governo. Nada que a lógica dos acontecimentos não previsse, porém. Quando Dilma Rousseff apareceu em público no passado dia 31 de Outubro para agradecer aos brasileiros a vitória e a continuidade do legado Lula, Palocci, com 20 anos de músculo político, estava perto, sorridente, transbordante de regozijo, depois de ter sido um dos mentores da campanha da nova inquilina de Brasília. Aliás, minutos antes, ele tinha sido um dos responsáveis pelo discurso da recém-eleita.
Palocci estava, inclusive, cotado como o homem forte da continuidade: eficiente demais para não estar por perto; um furacão para resolver problemas. Quando Lula, o ex-metalúrgico, assumiu as rédeas de um país pasmado perante um presidente plebeu, Palocci foi um dos responsáveis pela redacção da "Carta ao Povo Brasileiro", para sossegar os sectores produtivo e financeiro de que o novo Governo não iria romper com as regras vigentes da economia.
O nome do meio de Palocci é, pois, credibilidade. Petista fisiológico, conservador, o médico sanitarista de formação sempre esteve perto do governo petista. Nasceu no mesmo ano em que a capital do Brasil, sua actual residência política, foi inaugurada: 1960. Na época, resgatava-se o orgulho nacional: Juscelino Kubitscheck no poder, mentor de uma cidade- -utopia, que hoje concentra, também, parte dos vícios políticos.
Palocci cresceu num fervilhar transformador, e num ambiente político de mudança que o influenciou. Filho do conhecido artista plástico ítalo-brasileiro, António Palocci, e de Antónia de Castro, membro da organização trotskista Convergência Socialista, o novo ministro da Casa Civil, militou em diversas alas radicais de esquerda, como a Libelu - Liberdade e Luta - nos anos 70 do século passado.
O braço-direito de Rousseff é, pois, um artista de bastidores, com comprovada bagagem política. A vida pública veio em 1988: vereador de Ribeirão Preto, no estado paulista, onde nasceu. Foi eleito deputado estadual em São Paulo em 1990. Três anos depois seria prefeito na cidade natal, onde recebeu o "Prémio Criança e Paz" da UNICEF. Em 2000 sentar-se-ia novamente nessa cadeira pública.
Palocci soma ainda o Prémio Juscelino Kubitscheck por ser impulsionador do município que mais apoiou as micro e pequenas empresas. O Prémio Mário Covas veio, em 2002, pela mesma razão.
O amigo de Lula chegou ainda a presidir ao PT em São Paulo em 1997. No ano seguinte, as urnas ditaram que seria deputado federal. Foi, ainda, segundo vice-presidente da Comissão de Reforma Tributária e titular da Comissão de Segurança Social e Família.
O currículo segue com fôlego, mas destaca-se no perfil: Palocci tem o ouvido e o conselho prontos quando o assunto é, sobretudo, economia. É uma peça fundamental no xadrez petista: a fama de mediador entre o meio empresarial agarram admiração como político competente. Ou seja, no tabuleiro estratégico, Palocci, autodidacta em assuntos económicos, é uma espécie de dama, com poderes de torre e bispo, muitas vezes disfarçado de peão. Chegou a pedir conselhos sobre economia à oposição.
Ele foi, aliás, o primeiro desígnio de Lula para ser o presidenciável capaz de afinar a orquestra do novo Governo. Mas, o escândalo da quebra de sigilo do caseiro, revelado através da comissão de inquérito parlamentar dos bingos, no caso da casa de lóbi, que supostamente servia de ponto de encontro com prostitutas, fê-lo sair pela porta pequena de Brasília, em 2006.
Na altura, era ministro da Fazenda (Finanças) de Lula. O solo desafinou os acordes previstos, que era já ruído de fundo devido ao envolvimento no caso Mensalão - o esquema de compra de votos de parlamentares, a maior crise política do Governo do pai dos pobres. Presidenciais, portanto, fora de questão. A batuta do mestre Lula, no entanto, colocou-o, agora, de novo na orquestra, para harmonizar a melodia governamental.