o arquiduque que a morte valorizou

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Um tiro pode garantir mais fama que mil discursos, dez medidas, cem leis. O melhor exemplo dessa afirmação é Francisco Ferdinando de Habsburgo-Lorena, que a historiografia em língua inglesa regista como Franz Ferdinand e a juventude mais distraída apenas associa à banda rock escocesa que tem temas tão populares como Take Me Out ou No You Girls (ver outro texto).

O assassínio do herdeiro ao trono do Império Austro-Húngaro, abatido pelo nacionalista bósnio-sérvio Gavrilo Princip, em Sarajevo, a 28 de Junho de 1914, serviu de pretexto para o início da I Grande Guerra - e, desde então, o nome do arquiduque é sempre citado quando alguém tenta explicar a origem daquele conflito, que se desenrolou em sete frentes de batalha e durou quatro mortíferos anos.

Se as consequências do atentado que impediu Francisco Ferdinando de ter um funeral com honras imperiais (ou no esquecimento do exílio) fossem apenas internas, o arquiduque teria o destaque que, na História de Portugal, é dedicado a Luís Filipe, o primogénito baleado em 1908. Mas, ao ser o alvo daquela bala mundial, continua a suscitar curiosidades em todo o lado.

Por exemplo, no leilão desta semana no Palácio Dorotheum, em Viena, onde havia obras de mestres da Fotografia capazes de agradar a todos os gostos, de Muybridge a Mapplethorpe - e há sempre quem lamente não ter dinheiro para licitar um nu do Joseph Sudek, uma "solarização" do Man Ray, uma paisagem com tons que parecem aguarelas do Luigi Ghirri - um dos destaques era a série de imagens com Francisco Ferdinando.

No conjunto de 60 fotos captadas por Eduard Hodek (e por outros), e intitulado The World Tour of Archduke Franz Ferdinand - 1892/93, em cenários da Índia, Ceilão, Austrália, o arquiduque surge em caçadas aos elefantes e com leopardos (estima-se que, ao longo da vida, abateu uns cinco mil veados), em garden partys e paradas a cavalo, ao lado de marajás e de governadores britânicos.

Mas quem estará interessado em comprar aquelas imagens, mesmo sendo fotos vintage? O melhor é ouvir um disco dos Franz Ferdinand.

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