O aparelho conta?
É muito cedo para fazer previsões mas o Iowa mostrou qual a questão fundamental nos próximos meses: que força terão os candidatos preferidos do establishment partidário para travar os representantes das alas menos sincronizadas com as suas máquinas? Nos democratas, é tudo claro como água. Hillary Clinton garantiu apoio da maioria dos futuros superdelegados à convenção e é há muito a desejada pelas estruturas nacionais do partido. Já Bernie Sanders, que só aderiu aos democratas em 2015, tem um discurso de rutura com o centro do partido e por isso é popular entre os mais jovens e os independentes, com perspetivas de bons resultados se a mobilização se mantiver. Mas isto não significa que algumas vitórias (já em New Hampshire) criem uma dinâmica igual à de Obama em 2008. Primeiro, Sanders não é Obama. Segundo, o establishment democrata dificilmente abandonará Clinton novamente. Terceiro, caso Cruz ou Rubio se posicionem como líderes na corrida republicana, a experiência política de Hillary sairá valorizada como uma característica decisiva, ponto que a distancia de Sanders. Do lado republicano, está tudo mais turvo. O aparelho do GOP odeia Trump, desdenha Cruz e apostou as fichas todas em Jeb Bush que, não tendo caído, precisa de grandes resultados em New Hampshire, Carolina do Sul e Nevada para inverter a ideia de que é Marco Rubio o favorito do partido na "superterça--feira", 1 de março. Os senadores, por exemplo, estão a temporizar os apoios, embora Rubio tenha tido já uma boa notícia: Tim Scott, o único republicano negro no Senado, apoiou-o e sendo da Carolina do Sul é um endosso relevante a curto prazo. Se o partido quer vencer em novembro, tem de ir além do voto branco, religioso e rural. Rubio pode ser o único capaz de alargar essa base, até porque o candidato unificador é normalmente o nomeado do partido.