O antigo 10 que agora distribui jogo no agenciamento de atletas

Antigo médio ofensivo de V. Guimarães e Benfica virou agente e tem Fernando Meira e Pedro Mendes como sócios. Campeão com Trapattoni, lamenta caso de doping sem explicação
Publicado a
Atualizado a

Nuno Assis era um daqueles 10 puros, um médio ofensivo que muito deu nas vistas nos relvados nacionais. Hoje, um ano após ter pendurado as botas, continua a distribuir jogo, mas agora no agenciamento de futebolistas.
Natural de Lousã, o antigo craque do Vitória de Guimarães, emblema que representou em mais de 200 encontros, ficou a residir na Cidade Berço, onde gere a empresa MNM Sports Management juntamente com os sócios Pedro Mendes e Fernando Meira, também eles ex-jogadores. "Temos a empresa aberta há quatro anos. Está a correr bem e tem vindo a melhorar de ano para ano. Sempre quisemos continuar ligados ao futebol e decidimos tentar e experimentar", contou, confessando dias agitados nesta fase de defeso. "E até fechar o mercado vai haver cada vez mais trabalho", disse ao DN.
Em comparação com vida que levava, diz que era mais fácil ser futebolista. "Passa-se mais tempo fora de casa. E posso estar em casa e ter de sair a qualquer hora. É uma questão de adaptação, até para a família. É muito mais fácil ser jogador, só nos preocupamos em jogar. E hoje é mais complicado do que há uns anos, porque há uma mentalidade diferente. Os jogadores têm noções erradas das coisas. Por fazerem um bom jogo ou por lerem notícias nos jornais acham que vão chegar facilmente ao topo. Mas é preciso serem regulares e terem mentalidade forte para lá chegar. E por vezes é necessário ter de explicar-lhes isso e até aos próprios pais", disse, reconhecendo que "em Portugal há muitos miúdos com valor".

Doping e seleção, as duas mágoas
O momento mais alto da carreira de Nuno Assis, reconhece o próprio, foi a conquista do título nacional pelo Benfica em 2004-05, com Giovanni Trapattoni ao leme. "Mas fiz grandes épocas no Vitória, o que me levou à seleção", diz.
"Sei que podia ter atingido outros patamares. Tive problemas no Benfica, sobretudo com o doping. Estava muito bem, com o Fernando Santos, e quando estava para transferir-me, fui suspenso", afirmou, recordando um caso que "ainda não está explicado". "Era mais fácil se tivesse dito que tomei um comprimido para a dor de cabeça. Mas não tomei nada, nem um comprimido para a dor de cabeça. Nandrolona é algo que todos produzimos. Foi uma questão política, e não se pensou no atleta nem na pessoa. Uns vão dizer que estou a esconder algo, mas com o controlo que existe só se fosse burro é que teria tomado algo. Podia ter acontecido a qualquer um. As pessoas não entendem que eu não tinha necessidade. Já estava onde estava. Existiram vários erros que podiam ter alterado a análise de urina. Mas foram seis meses de suspensão. O secretário de Estado da altura [Laurentino Dias] não deve ter família. Nunca me ouviu", lamentou.
A outra mágoa do ex-médio foi não ter tido mais sucesso na seleção nacional, que representou apenas duas vezes, uma em 2002 e outra em 2009. "Senti que podia ter ido ao Mundial da África do Sul (2010). Estava entre os eleitos de toda a imprensa. Era um dos meus sonhos, mas não consegui. Estive perto", lembrou, "bastante contente" pela carreira que teve.

Apaixonado pelo V. Guimarães
Nuno Assis não esconde a paixão pelo Vitória de Guimarães, um sentimento bem notório durante a conversa com o nosso jornal, apesar de também ter representado o Benfica, que "tem grandeza mundial". "É um clube diferente. As pessoas são apenas do Vitória e não de mais algum clube. Há uma envolvência diferente. É preciso estar em Guimarães para entender", disse o antigo jogador acerca de um emblema que representou durante sete temporadas.
Foram as boas campanhas no D. Afonso Henriques, entre agosto de 2001 e janeiro de 2005 - voltaria aos vimaranenses entre 2008 e 2010, e em 2011-12 -, que o catapultaram para o Benfica, onde foi campeão "passados seis meses". Nessa época, foi orientado por Trapattoni, um "treinador diferente, até pela idade". "Já tinha passado por muita coisa. Sabia levar os jogadores com ele. Tínhamos um grupo pequeno mas muito unido. Raramente o vi chateado. Estava sempre na palhaçada", recordou, igualmente grato a treinadores como Fernando Santos, Jorge Jesus, Luís Campos, José Romão, Manuel Cajuda e Paulo Sérgio.

Do Médio-Oriente ao Chipre
Já na reta final da carreira viveu o "8 e o 80" em 2010-11 ao serviço dos sauditas do Al Ittihad. "Jogávamos em casa perante 50 mil pessoas e disputávamos a Liga dos Campeões da Ásia, mas tomávamos banho individualmente, interrompíamos o aquecimento para rezas, treinávamos às cinco da manhã, jogávamos às dez da noite, ficávamos em casa de alguém conhecido quando não tínhamos sítio para dormir antes dos jogos fora e levávamos a roupa para lavar em casa."
Com uma temporada em Guimarães pelo meio, rumou ao Chipre, onde fez quatro épocas "muito boas" pelo Omonia e foi idolatrado. "É o maior clube da ilha em número de adeptos. Vivem o clube como os do V. Guimarães. Apesar da idade, fui melhorando de época para época e fiz mais de 40 jogos aos 38 anos", rematou o agora empresário, que até teve direito a um jogo de homenagem em solo cipriota.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt