O adepto que vai apoiar a equipa pelo 700.º jogo consecutivo
Poucos adeptos no mundo poderão dizer que acompanharam a equipa que adoram em 700 jogos. Menos ainda terão feito o que Buddy Davidson, 78 anos, se prepara para fazer no sábado: assistir ao 700.º encontro seguido (em casa ou fora) da formação que lhe enche o coração, os Auburn Tigers, que competem na principal divisão universitária de futebol americano.
Quando faltarem cerca de 25 minutos para que o conjunto do estado de Alabama entre em ação diante dos Ole Miss Rebels, o homem que dedicou a vida ao trabalhar nos bastidores do clube vai estar debaixo dos holofotes para receber uma ovação. O momento de homenagem vai não só assinalar o número redondo mas também pôr um ponto final a uma sequência que começou a 2 de novembro de 1957, pois Davidson planeia que essa seja mesmo a última partida dos Tigers com a presença dele. O desafio seguinte, em Baton Rouge, no estádio de Louisiana, será o primeiro sem ele em mais de seis décadas.
Para trás, vão ficar 61 temporadas de devoção total, manifestadas nos mais variados papéis: diretor de estudantes, diretor de informações desportivas, diretor desportivo auxiliar, voluntário em dias de jogo e embaixador. Os cargos podem ter mudado, mas a forma apaixonada como viveu o clube jamais se alterou.
Carta ditou-lhe o destino
Quando chegou ao emblema universitário não tinha muito: uma caixa de sapatos, 100 dólares e uma carta que lhe ditou o destino. Foi escrita pelo treinador dele na Lee High School, Tom Jones, e endereçada ao então técnico dos Tigers, Ralph Jordan, a instar a inclusão de Davidson no projeto de futebol americano da universidade.
Contudo, a falta de meios do então jovem ambicioso de 18 anos quase que lhe custou o estatuto que hoje transporta. Com algum esforço, conseguiu gerir as finanças no primeiro ano de faculdade, mas desapareceu da escola no segundo, para trabalhar no alcatroamento de estradas e juntar algum dinheiro.
Aí, valeu Ralph Jordan, que o procurou, descobriu e lhe pediu para voltar ao campus da universidade para trabalhar em algo. Buddy passou então a assumir as funções de team manager, a ajudar na confeção de três refeições diárias para os jogadores e a manter as instalações da equipa em ordem. Uma correria diária, que motivou a admiração dos que estavam por perto. "A sua perseverança diária é incrível. Sempre foi como o coelho da Energizer, sempre a correr e sem alguma vez estar cansado", afirmou a amiga de longa data Frances Sanda.
Em Auburn, porém, o desporto não foi o único amor que o carismático Buddy D encontrou. Também foi lá que começou a relação com Fran, a mulher que tem estado ao seu lado nos bons e nos maus momentos.
Nem um AVC o afastou
Nem mesmo um acidente vascular cerebral (AVC) em 2014 afastou Davidson das bancadas dos estádios onde a equipa jogava. Aliás, quando estava apenas com o discurso pouco fluído como sintoma, só concordou em ir ao hospital se Fran lhe prometesse que o deixava assistir ao jogo seguinte. O AVC deixou marcas: dois bloqueios completos na artéria carótida, paralisação do lado direito do corpo e a fala afetada. A sua voz é difícil de entender e é necessário a intervenção da esposa para traduzir o que ele pretende dizer em palavras percetíveis e frases articuladas.
"Acho que é especialmente impressionante e emocionante, voltar ao trabalho e trabalhar arduamente, como ele continuou a sequência mesmo após ter tido o AVC. É uma lição para todos nós", disse ao site do clube David Housel, a quem as portas do Auburn foram abertas pelo assíduo adepto, em junho de 1965, com a passagem da pasta de diretor de informação desportiva. "Não sei o que teria sido a minha vida se o Buddy não me tivesse dado aquela oportunidade", confessou.
"Ele cruzou tantas gerações de pessoas, atletas-estudantes, treinadores e adeptos que, quando se fala em Auburn, fala-se em Buddy Davidson. E ele é um só", vincou o diretor desportivo do clube, Jay Jacobs.