O acordo aguenta
Nem a reposição dos 10% cortados pela troika nem a atualização automática via indexante de apoios sociais. O PCP não aceita - e votará contra - que aos partidos políticos seja dado mais um cêntimo que seja de financiamento além do que está hoje previsto. E até acha que o valor atual devia ser reduzido. O que é curioso nisto nem sequer é a posição dos comunistas - numa altura em que ainda há tanto a fazer por quem sofreu na pele a austeridade imposta pelos nossos credores, estranho seria que os comunistas quisessem açambarcar para o partido dinheiro que poderia ser usado para ajudar os portugueses. Incrível é que o PCP é o único dos sete partidos com assento parlamentar que se pronuncia contra o aumento do financiamento aos partidos. Todos os outros, Bloco e PAN incluídos, ficam em silêncio, à espera de que alguém tome uma decisão. Tem sido assim desde que os partidos da esquerda assinaram a posição conjunta que permitiu ao PS ter maioria parlamentar. O PCP pouco ou nada cede naquilo que é a sua doutrina, mesmo que com isso ponha em risco a aprovação de projetos dos partidos que apoiam o governo que ajudou a legitimar - foi assim, por exemplo, com as barrigas de aluguer. O PAN olha em volta à espera de que algo aconteça. E o Bloco, fiel ao que vê como um acordo que favorece os seus objetivos para o país, só levanta a voz quando sabe que não pode estragar grande coisa. Claro que este exclusivo bloquista de quase perfeita harmonia com o PS está a deixar marcas. Uma delas é a aparente ascensão do Bloco a parceiro natural dos socialistas em futuras ocasiões de necessidade. Outra é uma certa irritação entre PCP e BE, que já vai aparecendo por aí em acusações trocadas em blogues e redes sociais. Nada que António Costa não vá conseguindo controlar. Por enquanto, o acordo resiste. Resta saber se sobreviverá ao Orçamento do próximo ano. Da parte do Bloco, é certo que sim. Do PCP, vamos ver.