O 12 de maio magrebino
"A 13 de maio, na Cova da Iria, apareceu brilhando, a virgem Maria (...)". A 12 de maio (último) apareceu com 60 empresários e cinco ministros, o Chefe do Governo de Marrocos, Aziz Akhannouch, marcando assim uma nova e importante data, num também importante caminho que o Portugal de hoje traçou, no sentido de dar uma dimensão mediterrânica a Portugal. Em rigor, historicamente o Mediterrâneo, para os portugueses sempre foi a "autoestrada que se apanhava de barco", para mais rapidamente se chegar a Jerusalém. Os séculos XVIII e XIX vêm cativos portugueses em Argel, Tunes e Trípoli, quase exclusivamente por via de ataques corsários.
A nossa prioridade, ainda hoje, é o Atlântico e voltámos a olhar para o Mediterrâneo "empurrados" sobretudo pelas sucessivas vagas de migração, cuja necessidade de monitorização in loco levou à criação da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira, vulgo Frontex, com sede em Varsóvia, conhecida "cidade costeira"! A Frontex é de 2004, mas é a partir de 2011 que a Marinha Portuguesa começa a ter visibilidade dentro e fora de portas, através de reportagens que mostravam os nossos bravos a salvar vidas a náufragos africanos, cujo desespero os obrigaram "ao salto" para a Europa, acto comum a toda a nossa memória colectiva.
Ora Portugal encontra-se actualmente numa posição muito mais confortável para potenciar esta desejada e imperativa dimensão mediterrânica. A saber, "Jerusalém é americana, problema resolvido"! Depois mantemos uma posição atlântica privilegiada. Apesar das mudanças nos últimos 50 anos, foi-nos impossível alterar a geografia. A mesma, oferece-nos um "mar-de-ninguém" pela frente que só pode ser nosso, possessão a ser trabalhada através do Projecto de Extensão da Plataforma Continental, que é como quem diz, a terra debaixo de água e que aprovado pelas Nações Unidas fará de nós o segundo maior país da União Europeia.
O mesmo Projecto de Extensão em certos pontos, colide com as ambições espanholas e marroquinas. Até neste aspecto temos sorte, já que as boas relações com estes vizinhos, certamente permitirão entendimentos, trocas, negociações e um entendimento final. Cada vez mais temos que nos ver parte de um triângulo que pode constituir um pivot geopolítico e forçar o "meridiano da centralidade", para quem foi sempre periferia. Os ventos que sopram podem-nos empurrar na demanda da centralidade, só não o conseguiremos fazer sozinhos. Isso já lá vai! Por outro lado, a fuga aos hidrocarbonetos de leste, empurram-nos para os hidrocarbonetos do Sul e também aqui pela proximidade dos "vértices deste triângulo", poderemos nos transformar os três num influente posto de abastecimento marítimo, com posição privilegiada e de controlo do Estreito de Gibraltar, o que confere uma quota parte de controlo e responsabilidade no Mediterrâneo.
De regresso ao 12 de maio, a declaração conjunta dos dois governos, português e marroquino, entre outros aspectos, Portugal "reiterou o seu apoio à iniciativa marroquina de autonomia, apresentada em 2007, enquanto proposta realista, séria a e credível, com vista a uma solução acordada no quadro das Nações Unidas". Isto a propósito da disputa do Sahara Marroquino, pelo que as vontades estão alinhadas para um 2024 de comemorações profícuas a propósito dos 250 anos do Tratado de Paz entre Portugal e Marrocos, um bom ponto de partida para este "triângulo estratégico" cavalgar a candidatura ao Mundial 2030, de forma coesa, já que em pé de igualdade. Este evento, bem esgalhado, será a mola lúdica que nos animará a economia até ao final da década!
Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt (em reparação)
Escreve de acordo com a antiga ortografia