O 'efeito O' no livro electrónico
Vão os livros em papel ser substituídos no futuro por aparelhos electrónicos de leitura? A questão é anualmente posta na mesa por altura da Feira do Livro de Frankfurt, que se realizou na semana passada. Apesar de haver cada vez mais interessados nestes dispositivos, que facilmente substituem o papel pela facilidade de armazenamento e transporte num único suporte de dezenas de livros e pela actualização regular pela Internet de jornais e revistas, várias gerações ainda continuam apegadas ao papel.
Não é uma crítica mas uma constatação. Alegadamente, a comercialização de aparelhos como o Kindle da Amazon ou o Reader da Sony têm crescido, mas, como as empresas não revelam os números das vendas, é difícil assegurar a sua aceitação pública, até porque o preço não é ainda acessível (ambos custam mais de 300 dólares).
Outra forma de validar esse crescimento é pelo maior número de editoras dispostas a digitalizar as suas obras, facilitando assim a sua migração para os leitores electrónicos. Um exemplo vem da Penguin que edita em simultâneo as obras no formato tradicional e como livros electrónicos, estando ainda a digitalizar o seu espólio. E consultoras como a iSuppli apostam ser um mercado que vai crescer dos 3,5 milhões de dólares do ano passado para 291 milhões em 2012.
O processo é semelhante ao ocorrido com o mercado musical. Quando nos anos 80 se passou do vinil para o CD, a música tornou-se digital. Naturalmente, surgiram depois os leitores para essa música digital, culminando no sucesso popular de aparelhos como o iPod. Nada impede que o mesmo ocorra com o livro mas neste campo ainda estamos nos anos 90. Nessa altura, todos concordavam que a música em suporte digital tinha um enorme futuro, mas os aparelhos eram caros ou tinham reduzidas capacidades para cativar os utilizadores.
No caso dos livros electrónicos e dos seus leitores, as vantagens apontadas continuam a ser as mesmas desde há anos: uma maior capacidade de armazenamento de livros, imprensa e documentos de trabalho num único aparelho portátil, o que potencia uma diminuição no corte de árvores.
O potencial existe mas "a crise financeira vai abrandar a aquisição dos leitores electrónicos", antecipou Françoise Dubruille, directora da Federação Europeia de Editores. Este abrandamento pode beneficiar os fabricantes de telemóveis que se posicionam cada vez mais para fornecerem aparelhos com inúmeras funcionalidades.
O telemóvel é uma tecnologia disseminada. Os novos ecrãs já garantem uma boa leitura e as capacidades tácteis permitem "folhear" páginas. O único problema é ainda o reduzido espaço de armazenamento para livros num aparelho multimedia.
Dubruille pode enganar-se por outra razão mais televisiva. Na sexta-feira, a popular apresentadora norte-americana de televisão Oprah Winfrey considerou o Kindle como o seu gadget favorito, num programa onde esteve o convidado Jeff Bezos, fundador da Amazon.
Tal como sucedeu na última década com o chamado "efeito O", quando se tornou incontornável no mercado livreiro pela recomendação de livros e consequente sucesso de vendas, Oprah pode dinamizar as vendas destes aparelhos - tanto mais que a menção do seu nome nas compras online até final do mês assegura um desconto de 50 dólares. Mas a principal novidade desta associação entre a apresentadora e o Kindle é demonstrar que este tipo de gadget está a generalizar-se junto do público. E com a crise económica o facto de os livros electrónicos serem mais baratos é um trunfo importante.