António Costa está para o PS como Durão Barroso para o PSD. Pode ser o que ele quiser. E o que eles quiserem condicionará os seus partidos. No caso de Durão, a opção é apenas entre a Presidência - que arrumará as pretensões de outros candidatos - e o capitalizar do seu prestígio internacional. Já o presidente da Câmara de Lisboa avisa o PS, dizendo claramente que não rejeita qualquer possibilidade e escolhendo um elucidativo título para o seu livro: ele tanto tem o Caminho Aberto para a liderança socialista como pode fazer o trajeto de Jorge Sampaio e seguir direto dos Paços do Concelho para Belém. Resta-lhe esperar apenas pelo rumo de António José Seguro para escolher a forma como lhe pagará o roubo de protagonismo de que foi vítima no último congresso, com a célebre e nada inocente interrupção de uma intervenção televisiva. Já não há dúvida de que os dois seguem trilhos distintos: enquanto Costa esteve ladeado de toda a "família socialista" e de muitas figuras das várias oposições no hapenning de apresentação da sua compilação de crónicas, Seguro andava lá longe, pelo Algarve. Seguem--se encruzilhadas sem fim: as próximas diretas serão a meio de 2013 e refletirão seguramente um PS metade preso ao socratismo e a outra metade dividida pelas mil correntes do partido; depois haverá autárquicas; e, depois ainda, legislativas. Costa estará sempre no retrovisor de Seguro e só terá de esperar que este esbarre numa derrota para traçar o seu destino..Uma primeira má impressão de Arménio Carlos.Arménio Carlos começou mal. Ao apressar-se a fazer um teste à sua liderança e à capacidade de mobilização da maior central sindical do País, não fez bem as contas, que saíram furadas, e ainda pode ter comprometido uma importante arma de protesto. Ao convocar para a última quinta-feira a terceira greve geral em três meses, sem UGT, banalizou um recurso que deve ser a última instância de combate, o fim da linha quando se esgotam todas as alternativas. Cometeu dois grandes erros: fazer que um direito inalienável dos trabalhadores, a greve, possa começar a deixar de ser levado a sério e permitir que todos fizessem a leitura de que estava apenas a marcar a sua afirmação política. Resultados: por um lado viu o Governo criar-lhe um enorme engulho, porque, ao não entrar na habitual guerra de números, deixou-o sem referencial, levando a que, pela primeira vez, a CGTP não arriscasse contabilizar as percentagens da adesão; e, por outro, teve de ouvir o seu carismático antecessor, e putativo candidato presidencial da esquerda, Carvalho da Silva, avisar que o movimento sindical terá de reequacionar e repensar as suas formas de luta. Devia ter escutado uma velha máxima de António Guterres: não há segundas hipóteses para se causar uma boa primeira impressão..Os cumprimentos grátis de Teixeira dos Santos.Não há almoços grátis. Nem cumprimentos. E o que Teixeira dos Santos foi dar a Cavaco Silva, algures em Trás-os-Montes, dias depois de o Presidente da República, num ato de política baixa, ter resolvido ajustar contas com José Sócrates através do prefácio dos seus VI Roteiros, foi também um gesto de vingança para com a ingratidão de que foi vítima. O ex-primeiro-ministro nunca lhe perdoou a "traição" que o forçou a pedir a óbvia e inevitável ajuda internacional e ignorou imediatamente a lealdade de meses sem a qual não se teria mantido no poder. Mas este último prego para a já estraçalhada credibilidade de Sócrates, a quem o próprio Mário Soares apelidou de teimoso, tinha afinal um alcance que só ontem foi conhecido. Teixeira dos Santos estava a caminho da administração da PT, por proposta do acionista CGD, o banco público, e com o aval do seu sucessor, Vítor Gaspar. Mas entre um prémio que iria irritar ainda mais José Sócrates, e o incómodo que era apoiar alguém que o Governo tem responsabilizado pela situação financeira do País, desta vez Passos Coelho deu ouvidos ao político experimentado que é Paulo Portas e não à opinião técnica do já todo-poderoso ministro das Finanças. O cumprimento a Cavaco ficou a custo zero e Teixeira dos Santos vai ter de esperar mais algum tempo para se vingar seriamente. Pode é já não restar nada do alvo a vingar..Notas.Em Portugal, os combustíveis sobem, sobem, sobem sempre os mesmos cêntimos sejam quais forem as marcas. E a Autoridade da Concorrência estuda, estuda, estuda e nunca encontra nada de anormal..Sem soluções para os 1,2 milhões que estão sem trabalho, o Governo oferece-lhes entradas à borla nos museus: perdemos em emprego, mas ganhamos em erudição. E ficamos com os desempregados mais cultos da Europa.