Nyusi e Momade: os herdeiros da luta armada que assinaram a paz
Completou 60 anos no dia 9 de fevereiro deste ano. Estas eleições são um teste à sua popularidade depois de cinco anos como presidente. O antigo ministro da Defesa de Armando Guebuza era relativamente desconhecido quando se tornou o candidato presidencial da Frelimo em 2014. Natural de Mueda, Cabo Delgado, berço da luta de libertação, de etnia maconde, Nyusi foi também a primeira aposta numa figura fora da elite do sul que sempre governou o país, impôs-se como candidato presidencial face à concorrência de figuras mais óbvias, como os ex-primeiros-ministros Aires Ali e Luísa Diogo, como escreveu a revista Visão em 14 de outubro de 2014.
Nyusi venceu as presidenciais de 2014 com 57% dos votos contra os 36,6% conquistados pelo líder histórico da Renamo, Afonso Dhlakama (morto a 3 de maio de 2018). Mas o outsider Nyusi herdou um rol de problemas, dentro do partido - dividido por causa do processo de nomeação do candidato presidencial - e dentro do país, com uma economia estagnada e atingida pelos efeitos da recessão global. Em cinco anos, Filipe Nyusi, que tinha prometido a paz aos moçambicanos, conseguiu o acordo de paz com a Renamo, assinado a 7 de agosto deste ano. Mas a escalada de violência na campanha eleitoral mostra que é uma paz podre.
Sobre o país pendem também as ameaças da autoproclamada Junta Militar da Renamo. Nyusi enfrentou ainda neste ano os efeitos da passagem de dois ciclones no país e os ataques terroristas na rica região de Cabo Delgado, no norte do país, onde estão as explorações de gás natural. O processo das dívidas ocultas levou ao corte do apoio do Fundo Monetário Internacional e a economia do país atravessa uma fase difícil, com um crescimento interno estimado em 2%, abaixo da média de 3,7% registada entre 2016 e 2018. No seu manifesto eleitoral, a Frelimo e Nyusi estabeleceram como prioridades a unidade nacional, a paz, a reconciliação e a democracia. Sem essas garantias, não são possíveis o desenvolvimento económico e a justiça social que também constam do programa.
O novo presidente da Renamo, de 58 anos, nasceu para a política na Frelimo como jovem chefe militar, mas mal tinha completado 17 anos, em 1978, estava a aderir à guerrilha liderada por Afonso Dhlakama. Poucos meses depois era já combatente ativo contra as forças governamentais. Ossufo Momade tornou-se o terceiro líder da Renamo, sucedendo a Afonso Dhlakama, que dirigiu o partido entre 1979 e maio de 2018, quando morreu vítima de doença.
Nascido na ilha de Moçambique, Ossufo Momade é muçulmano e considerado um dos mais experientes (e discretos) dirigentes militares e políticos da Renamo. Momade viu um antigo sonho cair por terra com a morte de Dhlakama, em 2018, e a coordenação interina do movimento que assumiu então. Aspirava a licenciar-se em Direito e frequentava o segundo ano do curso em Maputo, que teve de abandonar. Quando assumiu a coordenação interina da Renamo, Momade teve também de renunciar ao mandato de deputado e mudar-se para o "santuário" da Renamo, as matas da Gorongosa. Em criança estudou na escola primária Luís de Camões, na ilha de Moçambique, prosseguindo depois o ensino comercial até à independência, em 1975, quando foi integrado nas Forças Armadas do novo país.
Durante a campanha eleitoral, Momade percorreu o país a alertar a população para estar atenta à contagem dos votos. "Depois de votarem, vão a casa almoçar e, depois, regressem aos locais onde cada um votou para controlar as urnas, senão pode haver manobras", pediu em Chimoio, província de Manica. Durante a campanha eleitoral, Momade fixou-se na promessa de mais emprego para os jovens e bons salários para os funcionários públicos para acabar com a corrupção, e ainda ensino gratuito do 1.º ao 10.º anos.