Nuno Melo silencia divisões internas com vitória esmagadora

Eurodeputado conquista liderança do partido com apoio de três quartos dos congressistas e uma unidade na ação inédita entre Manuel Monteiro e Paulo Portas.
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Nascido em Joane, Famalicão, há 56 anos, Nuno Melo, filho de famílias prósperas do Minho ligadas ao setor têxtil, chegou ao CDS no tempo da liderança de Manuel Monteiro (1992-1998) mas foi pela mão de Paulo Portas que se tornou pela primeira vez deputado, em 1999.

Ontem, no Minho (Guimarães), consagrou-se líder do partido de forma esmagadora - mais de 70 por cento dos votos - e conseguiu o que nunca ninguém tinha conseguido antes: ter o apoio dos dois ex-líderes, Monteiro e Portas, desavindos desde 1998 e, com maiores ou menores responsabilidades operativas, inspiradores de duas fações no partido que desde então nunca mais cessaram de se combater.

A circunstância em que se conseguiu essa raríssima unidade - que apesar de tudo não foi ao ponto de Portas e Monteiro se cruzarem no congresso, muito menos de selarem tréguas com um abraço para a fotografia - é porventura a mais difícil na história de um partido agora com quase 50 anos de idade: está pela primeira vez ausente da Assembleia da República (AR).

Citaçãocitacao"O mais importante deste congresso pareceu-me que o CDS deitou contas à vida e não fez ajustes de contas e isso é um primeiro passo bom. Todas as ajudas para poder reconstruir o CDS como instituição são bem-vindas e por isso acho que o primeiro passo foi bom."

Sendo certo que isso quase tinha acontecido - quando foi esmagado pelo cavaquismo ou nas legislativas de 2019 - a verdade é que agora a presença na AR é mesmo zero. E é desta situação de "alto risco" (expressão ontem usada por Paulo Portas) que Nuno Melo tem de tirar o CDS-PP. Sobra ao partido, institucionalmente, ter um eurodeputado (o próprio Nuno Melo, que se manterá como tal), seis presidentes de câmara e presença nos governos regionais das ilhas.

Se, no sábado, tinha sido Manuel Monteiro a ir ao pavilhão multiusos de Guimarães expressar de viva voz o seu apoio a Nuno Melo, ontem foi Paulo Portas quem o fez. Os militantes já não o viam no partido desde que deixou a liderança para Assunção Cristas, em 2016.

"Decidi vir aqui hoje de manhã usar o direito de voto por inerência por ter tido esse cargo, nunca o tinha feito antes por imparcialidade, mas achei que eram circunstâncias absolutamente excecionais", afirmou. Acrescentando: "O mais importante deste congresso pareceu-me que o CDS deitou contas à vida e não fez ajustes de contas e isso é um primeiro passo bom. Todas as ajudas para poder reconstruir o CDS como instituição são bem-vindas e por isso acho que o primeiro passo foi bom". Quanto às velhas divisões, e ao facto de agora ele e Manuel Monteiro estarem do mesmo lado da barricada, tentou fazer o discurso das águas passadas: "Estamos no século XXI em 2022, não estamos no século XX, nos anos 90".

Enfrentando outros três candidatos à liderança - Miguel Mattos Chaves, Nuno Correia da Silva e Bruno Filipe Costa -, o caráter esmagador da vitória de Melo começou a perceber-se quando as moções globais foram votadas. A do eurodeputado, intitulada "Tempo de Construir", obteve 73 por cento dos votos dos congressistas: "Não podia pedir uma votação mais expressiva do que essa que acabou por se registar."

Sendo assim, coube apenas a Melo fazer lista para o órgão máximo de direção executiva do partido, a Comissão Política. Aqui, obteve 75 por cento dos votos. Os seus vices serão Telmo Correia, Paulo Núncio, Diogo Moura, Ana Clara Birrento, Álvaro Castello-Branco, Varandas Fernandes e Maria Luísa Aldim. Cecília Meireles ficou de fora mas isso foi explicado com razões profissionais. No Conselho Nacional - o "parlamento" do partido -, a lista de Melo conseguiu dois terços dos lugares.

Agora, até às próximas eleições europeias - um desafio que encara como decisivo -, Nuno Melo tem dois anos para mostrar o que vale.

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