Nuno Marques: "Temos a melhor geração do ténis nacional"
Começando pelo fim. Portugal soube nesta semana que vai jogar o play-off de acesso ao grupo mundial da Taça Davis com a Alemanha...
Sabíamos que ia ser um adversário duro, não era o que preferíamos, mas temos as nossas hipóteses. Vamos jogar em casa, o que é um fator muito importante para nós, e acho sinceramente que temos as nossas hipóteses, mas vai ser uma eliminatória muito dura, frente a uma equipa muito equilibrada e com bons jogadores.
O jogo é só em setembro... já pensou na estratégia para o play-off?
Ainda falta muito, mas a nossa cabeça começa logo a trabalhar no adversário mal sai o sorteio. Mas eles conhecem-se bem. O João Sousa, por exemplo, já jogou com os dois Zverev... Mas importa é ter em conta que são uma equipa forte e equilibrada. Em termos de estratégia, o fator casa talvez seja o mais importante. Além de termos o público do nosso lado, podemos escolher as condições de jogo, que não seriam as mesmas a jogar fora. Podemos escolher entre piso rápido e muito rápido, no fundo escolher as condições que potenciem o nosso jogo e atrapalhem o deles. O jogo deverá ser na região de Lisboa.
Pôr Portugal de novo na elite era uma questão de honra para o Nuno como capitão?
Isto representa muito para mim. É algo que nunca foi conseguido. Há 23 anos fazia parte da equipa que jogou o play-off e perdeu. Agora podemos fazer algo inédito no ténis português e há aquele sentimento de que estes jogadores merecem. Ficaria muito contente se o conseguíssemos. O meu papel como selecionador tem influência até certo ponto, mas seria incrível para eles, para mim e para o ténis português. O apuramento para o Grupo Mundial é um sonho e as expectativas são grandes, assim como as possibilidades de fazer história.
O Nuno Marques representou Portugal na Taça Davis durante 17 anos, de 1986 a 2002, e nos Jogos Olímpicos de Sydney. Que recordações guarda?
As melhores memórias dos tempos de jogador são na Taça Davis. Eu nunca cheguei ao nível do João Sousa nem tive os resultados que ele teve - já venceu dois torneios - e claro que há boas recordações, mas é normal as melhores memórias serem desse tempo, porque é uma prova com um espírito próprio e quando o grupo é bom criam-se laços para a vida. Vive-se e sente-se de facto a bandeira. Agora é diferente, mas ainda sofro muito nos jogos, vivo-os intensamente. Para mim só faz sentido ser assim...
Nos últimos tempos tem havido muitos tenistas a nível mundial a abdicar da Taça Davis. Como reagiria se isso acontecesse em Portugal?
Tinha de respeitar, eles têm o calendário deles... Por mais que me custasse, tinha de respeitar a decisão dos tenistas. Sei que é um privilégio como capitão não ter esse problema. Eu acho que qualquer jogador quer representar o país, só que o calendário é super competitivo e há uma pressão incrível por causa do ranking, dos prémios...
Foi o melhor tenista português até esta nova geração. Como olha para os novos talentos do ténis nacional?
O Frederico Gil e o Rui Machado já tinham passado o meu ranking... O Gastão já é o segundo melhor de sempre e depois há o João, ele já elevou muito o patamar, não tenho qualquer problema em dizê-lo. É um jogador incrível, um exemplo, para os miúdos, de competitividade, entrega e profissionalismo, já não é comparável ...
Se houvesse um duelo entre o melhor Nuno Marques e o melhor João Sousa, quem ganhava?
[risos] Não sei... Mas sei que não será fácil haver outra geração como esta. Provavelmente temos a melhor geração e a equipa mais forte de sempre a jogar a Taça Davis. O nosso número 1 (João Sousa) é top 50 há vários anos e adora jogar a Davis. Depois temos o Gastão Elias, que é um excelente jogador, tem estado a jogar muito bem e esteve quase a ser top 50, agora desceu um pouco, mas vai voltar a subir. Temos um par forte. É verdade que vivemos um pouquinho à custa destes dois jogadores, que jogam sempre singulares e pares, apesar de termos excelentes jogadores como o Pedro Sousa, o Frederico Gil e o João Domingues...
Ser treinador de ténis era o caminho normal, depois de ter sido jogador?
Sim, era. Não há nada que eu imaginasse que me desse tanta satisfação como ser treinador. Gosto mais de ténis agora do que quando jogava. Aquela pressão de competir, dos rankings... Cada dia gosto mais desta modalidade, adoro o ténis e gosto de ajudar os miúdos.
Como coordena o cargo de selecionador nacional com o trabalho na Academia Nadal ?
Fazendo um acompanhamento à distância. Hoje não é tão difícil saber como eles estão e conhecer os adversários. Acaba por ser um trabalho em part-time, mas acho que sou competente, tenho conhecimentos.
Como surgiu o convite para ir trabalhar para a Academia de Rafael Nadal?
Procurava um projeto giro fora de Portugal e surgiu esta oportunidade. Já conhecia o Marc Gorriz, o diretor técnico da academia, e através de um amigo fiz chegar o meu currículo aos responsáveis pela academia e houve interesse imediato. É uma oportunidade fantástica para continuar a aprender e a crescer como treinador. As condições são muito boas e é um projeto que tem tudo correr bem. Em Portugal não há nada que se possa comparar, são duas realidades bem distintas.
Como é o seu dia-a-dia lá?
Passo seis horas no court, às vezes até um pouco mais porque gosto de ver os miúdos jogar, depois duas horas de planeamentos, reuniões, conversas com os treinadores...
Já teve oportunidade de conhecer e/ou treinar com o próprio Nadal?
Conhecer sim, claro, mas treinar não. Ele tem os treinadores dele, nem é essa a minha missão lá. Eu trabalho mais direcionado para os miúdos. O projeto é liderado pelo Nadal e tem o antigo jogador Marc Gorriz como diretor técnico. A ideia é formar jogadores, não fazer campeões.
O Nadal, entretanto, parece estar de novo em grande forma...
Sim, apesar do problema que teve no pulso, mas tem apanhado um Roger Federer numa forma incrível!