Em criança, Nuno Gama "não fazia ideia do que era" ser-se designer de moda. Em entrevista à agência Lusa, a propósito do quarto de século de carreira que celebra este ano, o criador lembrou que "a família toda estava à espera que fosse arquiteto". ."Adorava fazer casas com Lego e fazia-as bem divididas e bem estruturadas, então o meu pai ficava com um ar muito orgulhoso", recordou..O mundo perdeu um arquiteto, mas ganhou um designer de moda quando, "de repente", Nuno Gama cresceu "imenso" e teve de começar a criar as suas roupas porque não havia nada que lhe servisse.."Na altura não havia oferta nenhuma de roupa para gente do meu tamanho. Calçava 45 e o máximo que havia em sapatos era o 43, as calças ficavam-me pelos tornozelos, tinha sempre os pulsos de fora" contou..Este "foi o início, o abrir a porta". O mês de outubro de 1998 marcou um quase encerramento dessa e de todas as portas que se abriram entretanto..No ateliê que o criador tinha a Rua do Almada, no Porto, cidade onde estudou e se radicou nos primeiros anos de carreira, um incêndio destruiu praticamente todas as coleções criadas até então e obrigou-o a encerrar as lojas que tinha entretanto aberto em vários locais do país..Nuno Gama assume que na altura lhe passou pela cabeça desistir, mas não o fez por causa da "grande paixão" que sente pelo que faz - é "uma coisa muito mais forte" do que ele..Ao longo destes 20 anos de marca, uma das características do seu é a utilização de elementos tipicamente portugueses, como a cruz dos Templários ou os lenços de Viana do Castelo..Outra é que não tem medo de revelar o que lhe vai na alma: "Se calhar é um bocado esse o segredo [para ter chegado aos 25 anos de carreira e 20 de marca]. Algum pedaço de alma que vai agarrado aos cabides"..Olhando para o futuro, Nuno Gama apercebe-se que ainda tem "imensa coisa para fazer".."Se estivesse cá 500 anos, acho que não chegariam para as coisas todas que gostaria de fazer", disse, estando entre elas lançar um perfume -- o que se calhar já poderia ter feito, mas quer guardar para "mais tarde fazer muito bem feito a nível internacional" - e desenhar mobiliário, carros, ou relógios. .Apesar de o país não viver uma "fase de euforia", o negócio "tem corrido bem" a Nuno Gama.."Temos ido 'step by step' [passo a passo], em vez de fazermos 20 fazemos 10, em vez de tudo fazemos alguma coisa e estamos sempre a fazer coisas", afirmou..O importante, lembrou, é não baixar os braços, não desistir, não deixar de se ser criativo e tentar perceber o que o cliente quer, o que procura, o que gostaria de ter, porque "é isso que solidifica a marca e ao mesmo tempo também surpreende o cliente".