Nuno Cardoso quer municípios a comprar ações da Águas de Portugal

Nuno Cardoso, que presidiu à AdDP durante oito anos, afirmou ter ficado "perplexo com estas fusões que se pretendem fazer".
Publicado a
Atualizado a

O antigo administrador da Águas do Douro e Paiva (AdDP) Nuno Cardoso defendeu hoje que os 20 municípios acionistas da empresa devem comprar a cota maioritária (51%) da Águas de Portugal (AdP).

"Os municípios deviam tomar conta [da AdDP]. Deviam fazer uma oferta de compra dos 51% das ações da AdP. E isso é possível, quer no contrato de concessão quer nos estatutos de toda a empresa", afirmou Nuno Cardoso, em declarações à agência Lusa.

Em causa está o plano que o Governo apresentou para reestruturação do setor da água, que prevê que os atuais 19 sistemas de abastecimento de água e saneamento de águas residuais que integram a AdP passem para apenas cinco.

Nuno Cardoso, que presidiu à AdDP durante oito anos, afirmou ter ficado "perplexo com estas fusões que se pretendem fazer, que de alguma forma vão destruir uma empresa que está a funcionar muito bem".

"Isto não é reestruturação do setor nenhuma, isto é a reestruturação da AdP. É tudo uma mentira e mais uma vez é o Norte a ser prejudicado", sustentou Nuno Cardoso, também antigo presidente da Câmara do Porto.

Segundo Cardoso, em 1995/1996, quando o grupo AdDP é criado, havia um problema de falta de água em diferentes regiões e houve que associar os municípios, sendo que "a AdP foi sempre instrumental, apareceu para que as regiões conseguissem criar estruturas capazes para resolver o problema de água e saneamento".

"A ideia era que, após isso, a região assumia e controlava" a empresa participada da AdP, acrescentou.

Para Nuno Cardoso, o que está agora a acontecer "é uma OPA agressiva da administração central sobre os municípios, em desrespeito absoluto dos contratos que foram feitos".

"As empresas existem com contratos estabelecidos entre municípios, AdP e o Estado. À revelia dos municípios estão a forçar fusões com argumentos absolutamente demagógicos dizendo que é preciso que o litoral apoie o interior", criticou.

O antigo administrador entende que o litoral pode e até deve apoiar o interior, contudo, "não é através de uma empresa do Norte que depois vai ser telecomandada pelos improdutivos sediados em Lisboa".

Cardoso referiu que, comprando os 51% à AdP, "os municípios ficam independentes da AdP e terão menos custos".

"E daqui a 13 anos, todos os bens que a empresa tem são dos municípios associados", concluiu.

Com o plano para a reestruturação do setor da água, apresentado no início de outubro, o Governo pretende que as tarifas em alta (venda de água aos municípios) praticadas pelos novos sistemas multimunicipais, resultantes da fusão das atuais 19 concessionárias da AdP em apenas cinco, atenuem a diferença tarifária atualmente existente para uma banda tarifária de 11% em 2019.

Atualmente, a diferença entre tarifas cobradas aos sistemas do interior e do litoral chega a ser o triplo, em alguns casos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt