"Nunca escrevi um livro a pensar nos leitores"
Se fosse preciso dar um exemplo de um escritor português que tentou a todo o custo manter distância da vida pública - e literária -, a coroa seria sem dúvida posta sobre a cabeça do poeta Herberto Helder. Mas em segundo lugar estaria sempre a escritora Ana Teresa Pereira, que recusa aparecer e pouco fala, mesmo quando em 2012 recebeu o Grande Prémio do Romance da Associação Portuguesa de Escritores e a sua reação pública foi tão discreta quanto possível. Recentemente, publicou dois livros. Um deles para o público infantojuvenil, para o qual escreve com alguma frequência, e no qual procura a "simplicidade de sempre".
No final do ano passado lançou dois livros. Um para adultos [As Velas da Noite] e outro para jovens [A Estalagem do Nevoeiro]. Pergunta-se-lhe quão difícil é separar os registos: "O processo criativo não é deliberado, é muito nebuloso. Pode começar com uma imagem. Uma rapariga a caminhar na rua numa manhã de nevoeiro. Um homem numa casa isolada, sentado junto à lareira com um cão. E um dia ficamos a conhecer os seus rostos, como se chamam, o que os liga. E depois começamos a vê-los. Na margem de um rio, numa galeria em frente de um quadro. Numa livraria onde encontram o livro que procuravam há anos. Ou sentados num teatro, em Londres, à espera de que as luzes se apaguem."
Quanto às referências geográficas, duvida-se que uma ilha não caiba nos seus livros: "Segundo Dante Gabriel Rossetti, O Monte dos Vendavais passa-se no inferno, mas os lugares têm nomes ingleses. Os meus livros passam-se num mundo criado por mim onde as pessoas e as ruas têm nomes ingleses. É a Inglaterra, não só a que conheço." Mas considera que ao criar os seus ambientes literários não condiciona os leitores: "Nunca escrevi um livro a pensar nos leitores. Seria desonesto. O que interessa é o livro."