As vítimas de mutilação genital feminina dizem que a ajuda de que mais precisam é a nível de saúde mental e instam os governos e as organizações não governamentais a providenciar-lhes apoio para conseguirem lidar com o trauma a longo prazo..Sobreviventes e ativistas, reunidos numa cimeira sobre o tema no Senegal, na semana que passou, consideraram que a saúde mental deve ser a prioridade no que toca às vítimas de mutilação genital feminina e a casamentos infantis..Comum em 28 países africanos, a mutilação genital feminina é frequentemente vista como rito de passagem, justificada com razões culturais ou religiosas. Mas a verdade é que pode causar dor crónica, infertilidade e até a morte.."Não existem serviços de saúde mental para sobreviventes de mutilação genital feminina - é uma coisa que falta em África", disse Virginia Lekumoisa, uma sobrevivente, do Quénia, que trabalha para o governo na área dos direitos das crianças..A mutilação genital feminina envolve normalmente a remoção total ou parcial dos lábios vaginais e do clitóris, sendo praticada em raparigas desde a infância até à adolescência. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 200 milhões de mulheres e raparigas tenham sido submetidas a esse procedimento. Os líderes mundiais já estabeleceram como meta o fim desta prática no âmbito de uma série de objetivos a atingir até 2015..Excisada aos 18 anos, contra a sua vontade, Lekumoisa diz que nunca recebeu qualquer ajuda para enfrentar o trauma. "Há uma imagem que nunca me saiu da cabeça e que é a do sangue", conta, numa reportagem da Thomson Reuters Foundation..Atualmente trabalha com sobreviventes em abrigos no Quénia e diz que elas estão desesperadas por falar com alguém sobre aquilo por que passaram, mas, apesar de tudo, o assunto continua a ser encarado como um tabu..Se mais sobreviventes recebessem apoio mental, talvez conseguissem falar em público e ajudar a acabar com a prática..Aida Ndiaye, de 35 anos, do Senegal, diz que nunca sofreu complicações pelo facto de ter sido excisada, mas que o trauma de ter sido vítima de mutilação genital feminina com apenas 6 anos permanece até hoje com ela.."Lembro-me da minha irmã a gritar: 'Vão matar a Aida!'", conta, tremendo. "Nunca consegui esquecer esses gritos." Nunca falou com os pais sobre o assunto, confessa..Os serviços de saúde mental são uma coisa rara em África, a nível geral, com menos de um profissional especializado por cada cem mil pessoas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde..Fatoumata Seyba, uma ativista do Mali, enfrenta um trauma diferente: a sua sogra decidiu excisar a sua filha bebé sem ela saber. Seyba é contra a prática, mas a família do marido é favorável.."Não é fácil para uma mãe ver a sua bebé a sangrar e não poder consolá-la", conta..Tendo crescido rodeada por amigas que lhe falam dos seus traumas, pesadelos e vergonha por causa da mutilação genital feminina, ela quer agora poder garantir que a sua filha não sofre em silêncio.."Vou falar com ela sobre isso", promete Seyba.. * Jornalista da Thomson Reuters Foundation
As vítimas de mutilação genital feminina dizem que a ajuda de que mais precisam é a nível de saúde mental e instam os governos e as organizações não governamentais a providenciar-lhes apoio para conseguirem lidar com o trauma a longo prazo..Sobreviventes e ativistas, reunidos numa cimeira sobre o tema no Senegal, na semana que passou, consideraram que a saúde mental deve ser a prioridade no que toca às vítimas de mutilação genital feminina e a casamentos infantis..Comum em 28 países africanos, a mutilação genital feminina é frequentemente vista como rito de passagem, justificada com razões culturais ou religiosas. Mas a verdade é que pode causar dor crónica, infertilidade e até a morte.."Não existem serviços de saúde mental para sobreviventes de mutilação genital feminina - é uma coisa que falta em África", disse Virginia Lekumoisa, uma sobrevivente, do Quénia, que trabalha para o governo na área dos direitos das crianças..A mutilação genital feminina envolve normalmente a remoção total ou parcial dos lábios vaginais e do clitóris, sendo praticada em raparigas desde a infância até à adolescência. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 200 milhões de mulheres e raparigas tenham sido submetidas a esse procedimento. Os líderes mundiais já estabeleceram como meta o fim desta prática no âmbito de uma série de objetivos a atingir até 2015..Excisada aos 18 anos, contra a sua vontade, Lekumoisa diz que nunca recebeu qualquer ajuda para enfrentar o trauma. "Há uma imagem que nunca me saiu da cabeça e que é a do sangue", conta, numa reportagem da Thomson Reuters Foundation..Atualmente trabalha com sobreviventes em abrigos no Quénia e diz que elas estão desesperadas por falar com alguém sobre aquilo por que passaram, mas, apesar de tudo, o assunto continua a ser encarado como um tabu..Se mais sobreviventes recebessem apoio mental, talvez conseguissem falar em público e ajudar a acabar com a prática..Aida Ndiaye, de 35 anos, do Senegal, diz que nunca sofreu complicações pelo facto de ter sido excisada, mas que o trauma de ter sido vítima de mutilação genital feminina com apenas 6 anos permanece até hoje com ela.."Lembro-me da minha irmã a gritar: 'Vão matar a Aida!'", conta, tremendo. "Nunca consegui esquecer esses gritos." Nunca falou com os pais sobre o assunto, confessa..Os serviços de saúde mental são uma coisa rara em África, a nível geral, com menos de um profissional especializado por cada cem mil pessoas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde..Fatoumata Seyba, uma ativista do Mali, enfrenta um trauma diferente: a sua sogra decidiu excisar a sua filha bebé sem ela saber. Seyba é contra a prática, mas a família do marido é favorável.."Não é fácil para uma mãe ver a sua bebé a sangrar e não poder consolá-la", conta..Tendo crescido rodeada por amigas que lhe falam dos seus traumas, pesadelos e vergonha por causa da mutilação genital feminina, ela quer agora poder garantir que a sua filha não sofre em silêncio.."Vou falar com ela sobre isso", promete Seyba.. * Jornalista da Thomson Reuters Foundation