Numa pequena ilha deserta está guardada a pedra basilar do curling
Quando hoje, pelas 11:05, Canadá e Suíça começarem a disputar o primeiro título olímpico de pares mistos da história do curling, ninguém se vai dar conta disso em Ailsa Craig. Mas é ali, numa pequena ilha deserta, ao largo da Escócia, que está guardada a pedra basilar da modalidade. Literalmente: da ilhota sai o granito de que são feitas as pedras usadas nas principais competições mundiais (como acontece agora em PyeongChang 2018).
A Escócia é o berço da difícil arte de fazer deslizar pedras de granito ao longo de uma pista de gelo em direção a um alvo. O curling terá nascido lá, na Idade Média - e, à conta dessa influência, o Reino Unido é dos países mais bem-sucedidos na modalidade, a nível de Jogos Olímpicos de inverno. E, ainda hoje, os escoceses têm o quase-monopólio da produção das pedras de 20 quilos com que se jogam as partidas deste desporto invernal (praticado em cerca de 50 nações).
Tudo começa em Ailsa Craig, ilha vulcânica que foi refúgio dos católicos durante a Reforma Protestante na Escócia, no século XVI, mas está há muito desabitada (e é uma reserva ornitológica protegida). Lá - a meio caminho entre Belfast (Irland do Norte) e Glasgow (Escócia), a 16 quilómetros da costa ocidental escocesa - existem dois tipos de granito usados na produção das pedras de curling: blue hone (cuja baixa absorção de água facilita o deslizar sobre o gelo) e common green (que é extremamente durável e resistente a quebras). A Kays Curling, uma pequena empresa familiar (com apenas 16 funcionários), é a responsável pela sua extração da ilha - uma vez a cada década - e transformação em material desportivo.
Embora exista outra produtora no País de Gales (a Trefor Granite Quarry), a Kays Curling é a fornecedora oficial da Federação Mundial de Curling. De lá saem cerca de 2000 pedras por ano: cada uma custa 500 euros. "Não é algo que se compre todos os anos", justifica Mark Callan, diretor da Kays, lembrando que cada pedra pode durar até 50 anos.
Com o curling em expansão pelo globo, à conta do mediatismo ganho desde que se entrou em definitivo no calendário dos Jogos Olímpicos de inverno (Nagano 1998), a empresa, sediada na pequena cidade de Mauchline (sudoeste da Escócia), não tem mãos a medir. As encomendas têm lista de espera de três meses e chegam até de proveniências tão improváveis como o Qatar. "As nossas pedras estão espalhadas pelo globo", sublinha Mark Callan.
Quanto à ilhota onde nascem as pedras, lá continua sem vivalma, apenas com um castelo medieval abandonado e várias espécies de aves como visitantes. Os 99 hectares de território de Ailsa Craig - propriedade de Archibald Kennedy, 8.º Marquês de Ailsa - estiveram à venda em 2013, por 1,8 milhões de euros. Mas, até à morte do lorde britânico, dois anos depois, não foi noticiado qualquer negócio.
Wüst com recorde de medalhas
Indiferentes ao destino da ilha, os jogadores e jogadoras de curling lá continuarão em PyeongChang 2018 a fazer deslizar as pedras de granito até ao alvo colocado no final da pista de gelo (ganha quem puser as suas pedras mais perto do centro do alvo). Hoje serão atribuídas as primeiras medalhas de pares mistos (disciplina que se estreia nesta edição dos Jogos Olímpicos de inverno, juntando-se às habituais, de equipas masculinas e femininas).
Os finalistas, Suíça e Canadá, já têm o pódio garantido - depois de terem batido, ontem, Noruega (8-4) e Atletas Olímpicos da Rússia (7-5), respetivamente, nas meias-finais. De resto, a terceira jornada de finais em PyeongChang 2018 teve muito mais decisões emocionantes.
A principal protagonista foi a holandesa Ireen Wüst, que - ao conquistar o ouro nos 1500 metros - se tornou a atleta mais medalhada de sempre na patinagem de velocidade em Jogos Olímpicos de Inverno. Wüst, de 31 anos, soma 10 medalhas (cinco de ouro, quatro de prata e uma de bronze, ganhas entre 2006 e 2018) e está a apenas uma de distância de Marit Bjørgen (esqui cross-country), a mulher mais laureada da história e também ainda em competição em PyeongChang. O duelo entre ambas prosegue até dia 25...
De resto, ontem, houve decisões no biatlo: a alemã Laura Dahlmeier somou o segundo ouro de 2018, ao triunfar em 10 km perseguição; e o francês Martin Fourcade sagrou-se bicampeão olímpico de 12,5 km perseguição, depois do fracasso da véspera em 10 km sprint. Nas outras finais do dia (a de slalom gigante feminino, no esqui alpino, foi adiada devido às más condições climatéricas), os títulos foram para o Canadá (patinagem artística, prova de equipas), a estado-unidense Jamie Anderson (slopestyle /snowboard), o canadiano Mikaël Kingsbury (moguls /esqui estilo livre) e a norueguesa Maren Lundby (trampolim normal / saltos de esqui).