Num sonho novamente pop

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Foi o álbum de estreia, Surrealizar, que em 1988 apresentou os Ban, e o vocalista João Loureiro, ao grande público. Durante 21 anos, o disco esteve disponível apenas em vinil mas há dias foi finalmente editado em CD. O cantor aproveitou para anunciar o regresso da banda, reunida em segredo desde 2004. "Já temos um novo disco gravado, e vamos começar as misturas já na próxima semana", explicou quinta-feira, à conversa com o DN.

O novo álbum, ainda sem título, será cantado em inglês e editado "este ano" por uma etiqueta discográfica criada pelos próprios músicos. Deverá incluir 14 temas, gravados num estúdio no Porto ao longo dos últimos dois anos, apesar de um dos temas ter sido composto em 2004, nos primeiros ensaios do grupo após a reunião. "Têm um ambiente geral que apela um bocado àquilo que fizemos nos Zero. É uma coisa mais densa e experimental". Não é, portanto um "revivalismo daquilo que os Ban fizeram há anos", nas décadas de 80 e 90. "Tem um som bastante actual e arrojado, vai surpreender as pessoas", garante.

Por outro lado, e através do seu novo selo discográfico, Loureiro espera produzir novos artistas nacionais e distribuir os seus discos em Portugal e no estrangeiro. É um novo desafio para o músico e proprietário da discoteca Via Rápida, no Porto, que na década de 70 foi responsável por uma loja de discos do pai, Valentim Loureiro. Foi aí que começou a desenvolver a sua cultura musical e descobriu "os primeiros discos do Lou Reed, dos Roxy Music ou do Marvin Gaye", confessava ao DN no início da década.

De facto, a música nem sempre desempenhou um papel principal na vida de João Loureiro. Nasceu no Porto, a 9 de Outubro de 1963, mas passou os primeiros três anos da sua vida em Angola, onde o pai fora colocado quando ele não tinha sequer um ano de idade. De volta ao Porto, descobriu no desporto uma das primeiras paixões. Foi cinturão vermelho de karaté, praticou natação e chegou a jogar futebol nos juniores do Boavista. Mas, quando entrou para a Universidade Católica, onde estudou Direito, desistiu do futebol , "por uma questão de feitio e vontade", porque o curso lhe exigia muito tempo.

Por volta desta altura, em 1981, nasciam os Ban, que na altura se chamavam Bananas e não passavam de "uma banda de liceu", composta por João Loureiro, Paulo Faro, João Ferraz e Francisco Monteiro.

Após uma série de singles e EP, e concluído um processo de depuração pop, lançaram Surrealizar, em 1988, com a voz de Ana Deus, com samples e caixas de ritmos. Atingiram o sucesso nacional. Um ano depois, com Rui Fernandes e Ricardo Serrano, editam Música Concreta, e em 91 chegou Mundo de Aventuras. Os Ban separar-se-iam passado um ano, em 1992. João Loureiro dedica-se então aos Zero, que não conhecem o sucesso do seu anterior projecto.

A banda regressaria em 1994 com uma nova vocalista, Emília Santos, por altura da edição da compilação Num Filme Sempre Pop . Na altura, Loureiro anunciou que ia trabalhar paralelamente nos Ban e nos Zero. Mas a chegada à presidência do Boavista, em 1997, obrigou Loureiro a abandonar os palcos. Dedicou-se ainda à política, sendo eleito deputado pelo PSD, mas continuou atento à cena musical. "A minha vida evoluiu como as pessoas conhecem, mas sempre senti a falta desta ligação às áreas mais criativas", confessou há dias.

Agora, aos 45 anos, a música volta a ser a prioridade de João Loureiro, que faz questão de separar os Ban de um passado recente ligado ao dirigismo desportivo, lembrando que "é preciso separar as águas". Garante, contudo, que não foi a sua saída do clube que motivou este regresso, até porque o grupo voltou "a ensaiar em conjunto no inicio de 2004", depois de um jantar de amigos. E que Ban são estes? João Loureiro, Rui Fernandes, Paulo Faro, João Ferraz e uma nova vocalista, de seu nome Mariana Matos, com 23 anos.

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