Novos saloios vendem online e levam produtos a casa dos clientes
Mercado Saloio, Belong, Quinta do Arneiro, Horta à Porta ou Quintinha são algumas das empresas que vendem legumes e frutos biológicos frescos e os entregam ao domicílio nas grandes cidades. Uns são produtores, outros vão buscar a produtores selecionados. Mas todos dispõem de venda online.
Carlos Seixas foi jornalista durante muitos anos até que, em 2012, decidiu deixar a profissão. "Não aguentava mais e saí. Passei um ano a bater com a cabeça nas paredes", confessa. Mas a mulher, Tatiana, tinha (e tem ) uma quinta no Minho. Então, foi para ela que Carlos Seixas olhou e começou a pensar no negócio que viria a lançar: o Mercado Saloio, espécie de mercearia virtual de venda de cabazes (13 euros em média) com produtos da época, onde há legumes, fruta, pão tradicional... com entrega ao domicílio.
"Vivi em Lisboa durante 22 anos, agora sinto-me um saloio moderno. Troquei o carro por uma carrinha e aprendi tudo o que havia sobre a história do saloio", conta, divertido, Carlos Seixas, que entretanto foi viver para o Minho.
Começou sozinho, mas à medida que as encomendas iam aumentando foi contratando gente. Hoje são cinco pessoas (os chamados merceeiros) e três carrinhas na estrada a fazer entregas três vezes por semana.
O Mercado Saloio tem nove fornecedores para um universo de 1400 clientes particulares (não serve restauração) e distribui cerca de 1250 kg de produtos por semana.
Com um investimento pequeno, já recuperado, Carlos Seixas está na fase em que o que fatura dá para pagar os cinco ordenados, mas para crescer vai ter de investir. No Porto, tentou o conceito, mas não foi bem recebido porque "saloio não é bem-visto", explica.
Também a Belong tem a mão de um agricultor muito peculiar: o advogado Pedro Franca Pinto, 36 anos, com escritório em Lisboa. Partindo de um projeto integrado de turismo de natureza e de experiências que estão a ser desenvolvidas desde 2010, o Belong arrancou em março de 2014 com a distribuição de hortícolas e fruta biológica certificada. É uma marca registada a nível comunitário para poder "ser replicada no Porto, no Algarve, mas sobretudo fora do país", explica o seu criador. "É ambicioso querer internacionalizar o conceito, mas é possível", diz Pedro Franca Pinto, que assume que é o seu trabalho de advogado que lhe paga as contas.
Mas a Belong também tem produção própria em Aveiras de Cima, centro logístico em Alverca (numa mercearia fina denominada A Despensa) e escritório em Lisboa. Além da gerência, tem seis trabalhadores e dois prestadores de serviços, distribuídos entre produção, logística e gestão. Com uma carteira de 700 clientes na base de dados, cerca de 10% a 20% compram regularmente. E o negócio corre bem. De setembro de 2014 a setembro de 2015 mais do que duplicaram as vendas, "e a tendência é de crescimento", afirma. Para isso muito poderá contribuir também o lançamento, dentro de dois meses, da aplicação Belong para smartphone. Porque, acredita Pedro Franca Pinto, comer produtos biológicos, "mais do que uma tendência, é o futuro".
Trocar os livros pela horta
Isso mesmo defende a Quinta do Arneiro. "Já desafiámos muitas famílias a alterar os hábitos alimentares e a olhar para a agricultura biológica como um desafio para o futuro." Situada na região do Oeste, concelho de Mafra, a Quinta do Arneiro está na família de Luísa Ferreira de Almeida desde 1967. Foi o pai que, depois de 30 anos no Brasil, regressou a Portugal e comprou a quinta. Primeiro foi o cultivo de pera rocha, com bons proveitos nos anos 1980 e 1990. Mas, em 2007, Luísa deixa uma livraria que tinha há 14 anos para se dedicar a 100% à agricultura. Com ela, a quinta entrou na fase da produção biológica certificada de produtos hortícolas. Em 2011, foram construídos 2500 metros quadrados de estufas, iniciaram a conversão do primeiro pomar de pera rocha, remodelaram um armazém para embalamento dos produtos e licenciaram a cozinha para transformar os excedentes da horta. Desde 2009, e durante três anos em plena crise, empregaram 25 pessoas.
Com a distribuição/entrega de cerca de 400 cabazes por semana - também fornecem lojas biológicas e convencionais, escolas e restaurantes - a Quinta do Arneiro cresce a um ritmo de 50% ao ano. "Tem sido uma loucura", diz Luísa.
A compra dos produtos pode ser feita no site da marca, onde é possível encontrar cabazes predefinidos ou criados de raiz, em que o cliente pode acrescentar ou substituir produtos. Os preços variam entre os 20 (cabaz pequeno) e os 30 euros, para o cabaz grande. Pioneira no Porto, a Quintinha é uma empresa certificada que se dedica à comercialização e entrega ao domicílio. Com o lema "estamos onde estiverem os nossos clientes", a Quintinha dispõe também de lojas em Vila Nova de Gaia e Aveiro, com entregas ao domicílio no Porto, Matosinhos, Maia, Vila do Conde, Póvoa, Santa Maria da Feira, São João da Madeira e Espinho, com carrinhas próprias ou em todo o país, via CTT.
Já na Horta à Porta, criada em 2003, "os produtos são provenientes de produtores obrigatoriamente certificados das zonas Norte e Centro, como Trás-os-Montes, Celorico de Basto, Famalicão, Vagos, São Pedro do Sul ou Lourinhã". "Não utilizamos frigoríficos de conservação porque os legumes são recebidos e entregues de imediato e distribuídos em transporte próprio e refrigerado", diz a empresa.