Novos remédios podem ajudar a tornar cancro do pulmão em doença crónica

Medicamentos biológicos e imunoterapia permitiram duplicar os anos de vida em casos de doença avançada. Médicos trabalham em ensaios clínicos para terem soluções para mais doentes
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O cancro do pulmão é o que mais mata em Portugal. Em 2014, pelos dados mais recentes da Direção-Geral da Saúde, foi responsável por 3927 mortes. Uma doença de evolução lenta, sem rastreio, que só leva os doentes ao médico quando já há sintomas: mais de 60% dos casos são diagnosticados em fases muito avançadas, quando o cancro já está disseminado. Agora, os novos tratamentos, com medicamentos biológicos e imunoterapia, estão a lançar uma nova esperança.

Os médicos, diz Fernando Barata, presidente do Grupo de Estudos para o Cancro do Pulmão, estão empenhados em transformar o cancro no pulmão numa doença crónica. O tema vai estar em debate no 7.º Congresso que começa hoje em Coimbra. "Foi para os doentes com doença mais avançada que nos últimos tempos surgiram novos tratamentos - com medicamentos biológicos - para alvos identificados no tumor. Dos doentes com doença avançada, 20% têm estes marcadores moleculares. Conseguimos duplicar e triplicar a sobrevivência e com pouca toxicidade. Passamos dos habituais oito a dez meses para dois anos e meio", explica Fernando Barata.

"Outra opção é a imunoterapia, que usa mecanismos que simulam as nossas defesas contra o cancro, também com resultados muito promissores. Estamos a conseguir em doentes que já tinham feito quimioterapia somar mais 12 a 15 meses de sobrevivência. À volta de 30% dos doentes terão estes biomarcadores em grande expressão. É um avanço extraordinário", afirma o presidente do Grupo de Estudos para o Cancro do Pulmão. Os biológicos já fazem parte da prática diária. A imunoterapia está acessível através de pedidos de autorização especial feitos à Autoridade Nacional do Medicamento.

São estes resultados que levam os médicos a acreditar que se está no caminho certo para transformar o cancro do pulmão numa doença crónica. "Ainda não estamos lá, mas estamos todos a trabalhar em ensaios clínicos para transformar esta numa doença crónica. Estes tratamentos não servem para todos os doentes. Têm de ser muito bem selecionados com base em critérios clínicos e nos biomarcadores. A ideia é conseguirmos descobrir mais marcadores biológicos e, por outro lado, descobrir toda a capacidade da imunoterapia e qual o doente certo, para conseguirmos progressivamente levá-lo de oito a dez meses de sobrevivência para o dobro dos valores e com excelente qualidade de vida", diz.

Por toda a Europa estão a decorrer ensaios clínicos à procura de novos tratamentos. "Em Portugal temos a decorrer pelo menos uma dezena de ensaios clínicos para o cancro do pulmão. São várias as companhias que estão a investir fortemente nesta área. Os últimos dois anos foram repletos de novidades", diz, reforçando a importância das campanhas para redução do consumo do tabaco e das consultas de cessação tabágica.

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