Novos estádios não são sinónimo de segurança

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"É seguro assistir a um derby. Não desaconselho os pais a levarem os seus filhos a esses jogos entre as equipas grandes, pelo contrário, é interessante sentir aquele ambiente, eu não receio levar a minha filha. Contudo, aconselho vivamente para que não levem uma criança para a zona das claques, não por eventuais actos de violência, mas por toda a tradição que caracteriza o comportamento das claques, como os cânticos obscenos, as rixas entre eles." É a opinião do comissário Alexandre Coimbra, do Departamento de Informações Policiais da Direcção Nacional da PSP, para quem as movimentações das claques poucos segredos têm.

É à Polícia de Segurança Pública que cabe a responsabilidade de acompanhar os grupos organizados de adeptos nos jogos considerados de risco, como um Sporting--Benfica, ou um Benfica-FC Porto, que esta época já se realizaram e com incidentes - em maiores dimensões no clássico de Alvalade.

"Não são os novos estádios que podem travar este tipo de situações, mas sim a mudança de mentalidade, uma maior consciencialização de todos os agentes despor-tivos", comenta Alexandre Coim- bra, recordando a época anterior à do Euro 2004. "Os adeptos tinham outra atitude, assumiram a responsabilidade do País, estavam empenhados em dar uma boa imagem e os incidentes nos estádios desceram muito. Depois do Euro, da missão cumprida, tudo voltou ao 'normal' e dispararam de novo as ocorrências" (ver quadro).

Mas a situação não é para alarme, longe disso. "As claques e os seus elementos estão identificados, sabemos quem são os mais problemáticos, existe um acompanhamento assíduo das suas movimentações", conta, adiantando que as principais claques do Benfica, Sporting e FC Porto têm "um indivíduo de extrema-direita, bem identificado pela PSP", mas que não oferece receios de maior, "funciona, basicamente, como força de segurança das próprias claques."

O que mais preocupa a polícia são mesmo as facilidades dadas pelos clubes. "A maioria cede-lhes um espaço dentro do estádio, onde guardam o material, e permite- -lhes o acesso a esses locais na véspera dos jogos", diz o agente, explicando desta forma a presença, em dia de jogo, de objectos proibidos. Mas esta não é a única porta de entrada de petardos e similares. "É impossível, numa claque de 3000 elementos revistar um a um. Fazemos revistas selectivas, e garanto que apreendemos mais objectos do que aqueles que entram."

O Europeu trouxe também para os estádios portugueses um novo sistema de segurança, passando a ser obrigatório, por parte dos clubes, o recurso à segurança privada, os assistentes de recinto desportivo (ARD) que se devem articular com os agentes da polícia. Estes passaram a estar de forma mais discreta nos estádios (perto das claques, à paisana nas bancadas, e numa zona reservada, onde está o corpo de intervenção) e continuam a ser os únicos que podem actuar em situações de descontrolo.

"Existe coexistência pacífica e de respeito entre os ARD e a PSP. O balanço deste ano e meio de convivência é positivo. Ainda não é perfeito porque estamos num período de adaptação e também porque na lei há uma zona cinzenta na definição das responsabilidades", explica Alexandre Coimbra, relatando situações que evidenciam a confusão gerada pela lei "Há estádios onde a revista é feita pelos ARD, outros onde é a PSP, outros onde ambos fazem o mesmo."

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