Novos casos de doping com diuréticos surpreendem peritos
Este tipo de medicamentos costumava ser sobretudo um apanágio da ginástica ou dos desportos de categorias por peso, onde são utilizados para adelgaçar o corpo ou perder peso de forma mais rápida. Os diuréticos figuram na lista de produtos proibidos em todas as situações (em competição e períodos de treino e descanso), segundo o código mundial antidopagem, também pelos seus efeitos mascarantes, pois aceleram a diluição de substâncias dopantes na urina, o que pode ajudar a escapar a um controlo positivo.
Mas a descoberta de furosemida nas urinas de quatro nadadores durante a mesma competição, em Maio, no Brasil, e de hydrochlorothiazida ao campeão russo Alexandr Kolobnev (na foto) em pleno Tour 2011 levanta um grande ponto de interrogação para alguns directores de laboratórios antidoping. "É realmente difícil compreender a sua utilização nos desportos de resistência. A utilização de diuréticos durante a competição por alguém que não necessita pode ser extremamente perigoso. Pode alterar o equilíbrio das fezes e, claro, provocar uma desidratação extremamente rápida antes de um esforço violento", afirmou Martial Saugy, director do laboratório de Lausana, na Suíça.
A sua colega do laboratório canadiano de Montreal, Christiane Ayotte, mostrou-se igualmente surpreendida: "Quatro casos de uma só vez na mesma competição não é compreensível! É incrível. Há que perguntar: qual era a ideia? Gostaríamos de ouvir uma explicação."
Contrabalançar os efeitos nefastos dos corticóides
Estes dois peritos da luta antidopagem fazem as mesmas perguntas. "Está a ser usado como agente mascarante? Está a ser usado para perder peso? E nesse caso, penso que não seja muito inteligente Estou muito perplexo face ao recrudescimento dos diuréticos", sublinha Saugy.
Conselheiro científico da Agência Francesa de Luta contra a Dopagem, Michel Rieu tem a sua própria interpretação. "Para mim, há dois motivos que levam à sua utilização: para diluir a urina de maneira a esconder substâncias interditas mais fáceis de detectar e para contrabalançar os efeitos nefastos dos corticóides."
Os corticóides têm como efeitos secundários o aumento da retenção de água e da tensão arterial, ao passo que os diuréticos produzem precisamente os efeitos contrários. Daí o interesse em associar a toma destes dois tipos de medicamentos. "Todas as informações convergem na ideia de que há um recrudescimento dos corticóides. E isso não é surpreendente: com a nova política da Agência Mundial Antidopagem é cada vez mais difícil provar o uso de corticóides [como doping e não por motivos médicos]. Deixámos o caminho libre aos corticóides em competição e fora de competição. Nas malas de medicamentos encontram-se sempre corticóides", afirma o médico francês.
Os quatro nadadores brasileiros, que afirmam em sua defesa terem sido vítimas de um complemento nutricional contaminado, comparecem nesta quarta-feira perante o TAS. A decisão, esperada para o mais tarde na sexta-feira, poderá responder a algumas destas interrogações.