Novos ares de viragem ao centro na política espanhola

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Do outro lado da fronteira há novos ventos que sopram com força, e mudanças históricas e geracionais, na preferência política dos espanhóis, sobre quem deve governar desde Madrid, a partir das próximas legislativas de 2019. Desde a queda da UCD de Adolfo Suárez, que chefiou o primeiro executivo da transição política espanhola, desde 1976 até 1981, nenhum outro partido, dos considerados ideologicamente de centro, tinha tido tantas hipóteses de chegar à Moncloa, residência oficial do primeiro-ministro, e de se converter em favorito para governar Espanha, como o Ciudadanos, de Albert Rivera (Barcelona, 1979). Muitos analistas comparam o advogado e jurista catalão com Emanuel Macron, pelo seu perfil negociador, desafiante e novo, num panorama político nacional assente num bipartidismo obsoleto desde há 37 anos, mas que tanto Pablo Iglesias, líder do Podemos, como Rivera têm mudado por completo nos últimos dois anos.

Segundo as últimas sondagens, publicadas neste mês de fevereiro, nomeadamente a da Metroscopia para o jornal El País, tudo parece ter virado no panorama político espanhol e no predomínio do bipartidismo governativo, entre o conservador PP, do primeiro-ministro, Mariano Rajoy, e o PSOE, de Pedro Sánchez. A Metroscopia situa o Ciudadanos na primeira posição na intenção de voto dos eleitores, com 28,3%, mais de seis pontos à frente de PP (21,9%), PSOE (20,01%) e Podemos (16,8%). O incrível é que nesta legislatura o Ciudadanos é a quarta força política no Parlamento espanhol, com apenas 32 deputados de 350, atrás de PP, PSOE e Podemos.

Com menos de 12 anos de vida, a formação de Albert Rivera tem crescido espetacularmente, desde o seu nascimento em Barcelona, em julho de 2006, como alternativa de um grupo de profissionais liberais ao pensamento único imposto pelos partidos nacionalistas na Catalunha. Mas foi em dezembro de 2015 que o Ciudadanos conseguiu, nas últimas legislativas, a sua primeira representação parlamentar em Madrid. Até então, estava mais focado na Catalunha e não tinha dado o salto oficial para a política nacional espanhola. Foi então que a jovem Inés Arrimadas (Jerez de la Frontera, 1981) foi eleita para chefiar o partido na Catalunha, até hoje. Arrimadas é uma das pessoas de confiança de Rivera e que mais tem feito pelo crescimento do partido, não só na Catalunha, onde ganhou as últimas eleições autonómicas, de 21 de dezembro, mas em toda a Espanha, pelo seu posicionamento firme, corajoso e decidido na crise política aberta na Catalunha com o independentismo.

A última sondagem da Metroscopia tem feito soar todos os alarmes nas sedes do Partido Popular e do Partido Socialista, que estão a ver com horror como grande parte dos apoios conseguidos nas urnas em 2015 estão a ser captados pelo partido de Albert Rivera. A um ano e meio das próximas legislativas em Espanha, 2,2 milhões de votos, do PP de Rajoy, 28% do total, têm fugido para o Ciudadanos. Um fenómeno parecido está a acontecer com o PSOE que perdeu 18%, mais de 900 mil, para a formação de Rivera. Outro partido que não passa por melhores dias é o Podemos, de Pablo Iglesias, que desde 2015 é a terceira força política no Parlamento espanhol e agora ocuparia a quarta posição, atrás dos socialistas de Pedro Sánchez.

Quem está pior na sondagem é o primeiro-ministro espanhol. 62% dos votantes do PP consideram que Rajoy deve ceder a liderança do seu partido - 85% dos espanhóis concordam. A crise aberta na Catalunha, sem fim à vista, e a corrupção que tem atingido antigos colaboradores próximos de Rajoy, além do furacão Ciudadanos, instalado com força na vida política espanhola, são as principais causas da perda de apoios e popularidade do primeiro-ministro.

Com 62 anos, leva 35 dedicado à política, primeiro na Galiza, com Manuel Fraga, depois como braço direito do antigo primeiro-ministro José María Aznar, a quem sucedeu como presidente do partido, e desde 2011 como chefe do executivo de Madrid. O lema de Rajoy é resistir, o que tem feito até agora com sucesso, ajudado pelos bons resultados económicos, mas o caminho até às legislativas de 2019 apresenta-se difícil e tortuoso, pelo menos até que a crise da Catalunha não se resolva.

Correspondente da rádio Cadena Cope e do jornal La Voz de Galicia

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