Novo radar para prevenir situações de mau tempo extremo
Em construção há dois meses no Pico do Gralheiro, serra da Freita, o terceiro radar português terá 47 metros de altura e incluirá um piso dedicado à observação turística da envolvente.
O topo situar-se-á a cerca de 1100 metros de altitude e a torre deverá estar concluída até setembro, após o que será devidamente apetrechada para que, no primeiro trimestre de 2014, o radar possa entrar em efetivo funcionamento operacional.
A partir daí, passará a recolher dados que hoje ainda são disponibilizados pelos congéneres espanhóis de Santander, Corunha e Valladolid.
"Pode ser um exagero dizer isto, mas o que aqui está, para nós, é um sonho", declarou à Lusa Miguel Miranda, presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
"Queríamos há muito tempo ter em todo o território nacional radares meteorológicos com o mesmo tipo de tecnologia e o sonho está finalmente a chegar ao fim", acrescentou.
O investimento de três milhões de euros em plena área nobre do Geoparque de Arouca - cujo território está classificado pela UNESCO como Património Geológico da Humanidade - deverá assim assegurar um trabalho que, para o responsável do Instituto, não é "nada de muito complicado".
"Medimos a velocidade do vento e a quantidade de água ou de fenómenos a ela associados na atmosfera. Desde o fim do ano passado já tivemos quatro situações de tempo extremo e nem sequer vamos dizer se elas vão aumentar ou diminuir, porque não temos capacidade de saber isso, mas todos têm acompanhado os prejuízos que as empresas de distribuição de eletricidade e as populações têm tido nos últimos tempos", disse.
O novo equipamento de Arouca propõe-se antecipar situações dessas: "É absolutamente necessário que sejamos capazes de dar à Proteção Civil, às autoridades locais e aos operadores informação rápida, atempada e correta, que lhes permita atuar", explicou Miguel Miranda.
"Se fizermos isso, estamos a cumprir a nossa missão", sublinhou.
Para Sérgio Barbosa, gestor do projeto do Radar Meteorológico do Norte, esse desempenho vai beneficiar da inovação a introduzir na rede nacional ao dotar a estrutura da Freita da tecnologia de polarização dupla, simultaneamente horizontal e vertical.
"Isso vai permitir uma melhor determinação dos contornos do que pretendemos medir na atmosfera, que são os hidrometeoros, sejam eles chuva fraca, chuva forte, neve, granizo ou saraiva", esclarece.
Essa aposta insere-se na estratégia do Instituto para desenvolvimento do chamado "nowcasting" - que "é a observação e previsão a prazo imediato", para deteção e acompanhamento de fenómenos meteorológicos perigosos - e enquadra-se numa política de diálogo e cooperação com diferentes entidades externas.
"O radar será ainda uma estrutura científica que permitirá criar sinergias com universidades", revela Sérgio Barbosa, "para que essas possam explorar esta informação para o desenvolvimento de mais e melhores produtos, de apoio não só à meteorologia, mas também à atividade empresarial, que é de extrema importância nesta região".
José Artur Neves, presidente da Câmara Municipal de Arouca, destaca igualmente a componente do radar que é paralela à meteorologia.
"Aqui próximo temos o parque das pedras parideiras, que todos os dias é visitado por uma comunidade escolar imensa, proveniente de todo o país, e quando licenciámos esta obra tivemos logo a preocupação de tornar possível a visitação da torre para esse tipo de turismo", afirma.
"Há aqui uma componente complementar que tem a ver com o desenvolvimento do turismo ativo e científico do concelho", continua o autarca, "e por isso é que a obra foi financiada [em 85 por cento] por fundos comunitários".