Novo partido político das FARC divide opiniões um ano após cessar-fogo
A antiga guerrilha colombiana das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) lança nesta semana um novo partido político e divide opiniões no país, um ano depois do cessar-fogo bilateral anunciado entre o grupo e o governo.
O congresso que reúne a cúpula das FARC em Bogotá começou no último domingo com quase duas mil pessoas, segundo a imprensa local, mas o lançamento oficial do partido está previsto para a próxima sexta-feira, com um ato público e espetáculos musicais na Plaza de Bolívar, no centro de Bogotá.
O cessar-fogo bilateral, ocorrido em 29 de agosto de 2016, foi um passo decisivo para o acordo de paz que seria firmado um mês depois pela então guerrilha e pelo governo colombiano. A fase pública da negociação durou dois anos, depois de ter sido anunciada em Havana, Cuba, em setembro de 2015.
O acordo, que culminou com a entrega das armas pelas FARC sob a supervisão da ONU, no último mês de junho, também prevê a participação política do grupo, com a reserva de cinco vagas no Senado e cinco na Câmara de Representantes até 2026.
A entrada do grupo na vida política divide opiniões em Bogotá. Enquanto alguns eleitores defendem essa participação como um passo necessário para o fim do conflito no país, outros criticam que guerrilheiros que cometeram crimes possam estar no cenário eleitoral.
A economista Angie Rodríguez, 23 anos, afirmou que a representação política vai permitir que as FARC levem suas ideias para além da luta armada, mas que os membros do novo partido podem sofrer perseguição.
"Mesmo que o capital político que possuem seja escasso neste momento, ter participação política vai diminuir um pouco da segregação que existe no país. Vai ser uma resposta a muitos setores da sociedade que não se sentem representados pelos partidos atuais", disse.
Já o engenheiro de sistemas Miguel León, 40 anos, destacou os crimes contra civis cometidos pelo grupo e o seu vínculo com o tráfico de drogas.
"Não deveriam participar da política depois de todos os crimes que cometeram. Para mim, eles deixaram de ser um grupo rebelde de opinião para se tornar um grupo narcoterrorista que não se importa com a população", Miguel León, engenheiro de sistemas, 40 anos.
A desconfiança é um sentimento compartilhado tanto pela vendedora Luz Contreras, 44 anos, como pela auxiliar de serviços gerais Gladys Martínez, 52 anos.
"Seria bom se eles deixassem definitivamente as armas e lutassem pelo povo, mas não acredito nisso", afirmou Gladys.
Já Luz Contreras defende que o grupo tenha espaço nas urnas, mas teme que isso gere instabilidade política. "Eles têm direito de montar o seu partido político, mas também fizeram tantas coisas más... não foram só eles, os paramilitares fizeram coisas ainda piores", disse.
Os paramilitares foram grupos antissubversivos que atuaram na Colômbia, muitas vezes contando com o apoio ou a negligência da força pública, e que se desmobilizaram nos anos 2000.
Membros desses grupos que ainda estão armados são chamados de "bandas criminales" (grupos criminosos).