As paredes são brancas e estão vazias. O chão é cimento. As janelas deixam entrar a luz solar em pontos precisos de maneira a não danificar os centenários coches. Tudo neste edifício, projetado pelo arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha e concretizado em colaboração com o atelier de Ricardo Bak-Gordon, é diferente do edifício do antigo Picadeiro Real, onde o museu funciona desde a sua abertura em 1905. O minimalismo no edifício contrasta com os dourados trabalhados das viaturas. O passado e o presente a darem as mãos..Este é o novo Museu dos Coches que vai abrir ao público no próximo dia 23, sábado. Finalmente. Ocupando 15 177 metros quadrados nos terrenos das antigas Oficinas Gerais do Exército, a construção do edifício, pago quase integralmente (39 a 40 milhões de euros) pelas verbas vinda do Casino Lisboa, através do Turismo de Portugal, começou em 2009, durante o Governo socialista, e esteve desde o início sujeita a várias críticas. O edifício ficou praticamente concluído em 2012, porém a crise que entretanto tem abalado o país interrompeu o processo de transição, abrindo novas polémicas. O atual secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, foi um dos que manifestou publicamente as suas dúvidas. A inauguração tem sido sucessivamente adiada mas hoje Barreto Xavier concorda que o edifício não pode continuar fechado: "O edifício precisa ser usado. Tem que ser um edifício vivo", disse, na apresentação do espaço aos jornalistas. "Mais de 90% do museu está pronto, não há motivos para não deixarmos que o público usufrua deste espaço. Decidimos então aproveitar o facto de que o museu comemora 110 anos para marcar a inauguração." A festa de aniversário já será do outro lado da rua..Um dos principais problemas que tem sido levantado em relação ao novo museu, para além do custo da construção (a secretaria de Estado da Cultura contribuiu com 3,4 milhões de euros para a finalização do projeto) prende-se com a sua sustentabilidade. Até agora, o Museu dos Coches tinha uma despesa anual na ordem dos 950 mil euros, dos quais cerca de 500 mil eram cobertos com as receitas de bilheteira..O novo museu (integrando os dois edifícios) terá uma despesa estimada de 2,7 milhões de euros, sendo que o índice de cobertura (com bilheteira, mecenato e outras fontes de receita) é de 2,3 milhões. "Isto significa que o encargo do Estado se mantém nos cerca de 500 mil euros", explica Jorge Barreto Xavier, sublinhando que este cenário foi feito "de uma maneira muito sóbria e conservadora", com "valores baixos de visitantes e de receitas". O secretário de Estado espera que o novo museu tenha mais de 350 mil visitantes o que será um acréscimo considerável em relação ao ano passado, quando os coches foram vistos por 206 887 pessoas..O museu vai abrir, sim, mas não ainda totalmente pronto. A ponte pedonal, que ligará o museu à margem do Tejo, só estará pronta em meados do próximo ano. E o projeto museográfico terá ainda "apuramentos" a serem feitos até ao final deste ano. Ou seja: toda a parte multimédia, parte da sinalética, legendagem e dos materiais de apoio não estarão ainda disponíveis. "Mas isso não impedirá o público de desfrutar da visita", garante a diretora do museu, Silvana Bessone..Em compensação, o novo espaço garante ao público a possibilidade de ver mais viaturas (de 55 carros expostos passa-se para 78) e de as ver em melhores condições, uma vez que de 2 mil metros quadrados de espaço expositivo, o museu passa a ter 6 mil metros quadrados apenas para a exposição dos carros. Assim, explica a diretora, "será possível fazer uma viagem pela evolução dos transportes reais em Portugal desde o século XVI até ao início do século XX", algo que até agora não era possível pois grande parte da coleção referente ao século XIX encontrava-se em Vila Viçosa..Apesar de terem vindo para Belém 26 carros de Vila Viçosa, este pólo irá continuar a funcionar porque "mantém o interesse expositivo". Da mesma forma, manter-se-á aberto o edifício do Picadeiro Real, acolhendo algumas carruagens e viaturas de aparato do século XVIII, arreios, e um núcleo dedicado à rainha D. Amélia, assim como toda a galeria de pintura dos reis de Portugal..O preço dos bilhetes ainda não é conhecido mas haverá a hipótese de comprar bilhete para os dois edifícios (o novo e o Picadeiro) ou para cada um deles separadamente.