Novo ministro da Justiça de Dilma diz que quem manda na polícia é ele
O terceiro ministro da Justiça do Brasil em duas semanas entrou de rompante no governo Dilma. Eduardo Aragão, que substituiu Wellington Lima, demitido após 11 dias no cargo por acumular função incompatível na Bahia, e que, por sua vez, havia ocupado a vaga de José Eugênio Cardozo, cuja atuação na pasta desagradava a Lula da Silva, quer mandar, de facto, na polícia.
"Se me cheirar a fuga de informação da investigação por um agente nosso, a equipa toda será trocada, nem preciso de prova, a polícia federal está sob nossa supervisão", afirmou Aragão, doutorado em direito na Alemanha, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Com a nomeação, por enquanto suspensa, de Lula como seu colega na Casa Civil e a divulgação de escutas telefónicas pelo juiz Sérgio Moro como pano de fundo, a declaração do ministro soou a pressão sobre a Operação Lava-Jato, que investiga o escândalo de corrupção na Petrobras e o próprio ex-presidente.
"Não, de jeito nenhum, não tenho essa prerrogativa, essa competência", reagiu o próprio Aragão, sobre o assunto. Mas qualificou como "extorsão" o instituto da delação premiada - investigados diminuem drasticamente penas em troca de denunciar cúmplices - um dos métodos preferidos de Moro.
No passado, Lula queixou-se que José Eduardo Cardozo, que ocupou o ministério desde o início do governo Dilma até há duas semanas, não controlava a Polícia Federal. "Nem devo", respondeu em mais de uma ocasião Cardozo, hoje representante do governo em ações na justiça, como Advogado Geral da União. O atual ministro não é militante do PT mas tem ligações antigas com o partido.
As associações de delegados da Polícia Federal lamentaram as declarações do ministro. "Nós lamentamos profundamente as frases do ministro da Justiça, que disse que trocará a equipa da investigação Lava-Jato sem qualquer prova, sem qualquer apuração, sem qualquer indício de que há vazamento", afirmou Carlos Sobral, da ADPF, a associação de delegados da policia federal. Disse ainda Sobral que a entidade avalia tomar medidas judiciais para evitar qualquer tipo de afastamento sem prova. Luís Boudens, da FENAPEF, a federação nacional dos polícias federais, acredita que "as intenções do novo ministro não atinjam a autonomia da Polícia Federal".
Gilmar versus Lula
Entretanto, no Supremo Tribunal Federal, o juiz Gilmar Mendes resolveu suspender a tomada de posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil, atendendo a pedido de mandado de segurança do PSDB e do PPS, dois dos partidos de oposição. Para Mendes, a nomeação "é uma espécie de salvo conduto emitido pela presidente".
Quando processos relativos a Lula foram cair, por sorteio entre os 11 membros do coletivo de juízes da suprema corte brasileira, à secretaria de Mendes, o núcleo duro do petismo levou as mãos à cabeça. Mendes, nomeado para o cargo durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, é por norma hostil a Lula.
Em 2012, às vésperas do julgamento do Mensalão, o juiz relatou à imprensa uma suposta tentativa de pressão do ex-presidente. Segundo Mendes, Lula sugeriu que o julgamento fosse adiado para depois das eleições municipais daquele ano. Nesse caso, ele ofereceria como contrapartida apoio num caso de corrupção, envolvendo um bicheiro [patrão de jogo ilegal], em que o nome do juiz do Supremo Tribunal Federal aparecia. "Fiquei perplexo com as insinuações", disse o magistrado à revista Veja daquela semana. Desde então, a crer no relato dos seus próximos, a hostilidade de Mendes para com Lula ganhou ainda mais corpo.
Na revista Veja, mas desta semana, Delcídio do Amaral, o senador do PT apanhado em flagrante a sugerir ajuda na fuga de uma testemunha chave da Lava-Jato e por isso detido em sequência, voltou a atacar Lula. Na publicação - por natureza contrária ao governo - o "Antonio Fagundes do Pantanal", como é conhecido Delcídio, pela farta cabeleira branca e por ser natural do estado do Mato Grosso, afirma que "Lula comandava o esquema" da Petrobras.
"O Lula negociou diretamente com as bancadas as indicações para as diretorias da Petrobras e tinha pleno conhecimento do uso que os partidos faziam das diretorias, principalmente no que diz respeito ao financiamento de campanhas", acusa.
Na entrevista, Delcídio afirmou ainda que José Eduardo Cardozo, usava o cargo para gerir informação. "Cardozo faz o jogo que interessa a Dilma. Ele tinha acesso a informações privilegiadas e passava essas informações para Dilma, como operações que seriam realizadas pela Lava-Jato. Cardozo soube com antecedência da condução coercitiva de Lula e alertou os principais interessados. Foi por isso que ele atirou para a imprensa, um dia antes, a minha delação premiada. Ele sabia que uma coisa abafaria a outra".
Em sondagem do instituto Datafolha de ontem à noite, Lula surge com o patamar recorde de 57% de rejeição. E Dilma iguala a sua pior marca: 69%.
São Paulo