Novo Governo. Parceiros sociais dão benefício da dúvida. Oposição critica
Um substantivo contraste marcou ontem as reações ao novo Governo pelos parceiros sociais e pelos partidos da oposição. Enquanto as associações representativas dos diversos "ofícios" - do Turismo à Cultura, das Forças Armadas à Justiça - parecem dar o benefício da dúvida ao novo elenco ministerial, a oposição parlamentar já decidiu, embora em diferentes registos, que o primeiro-ministro e o seu novo Executivo não terão direito a qualquer estado de graça.
Foi talvez a principal surpresa no novo Governo, a contratação do sociólogo e comentador político Pedro Adão e Silva para ministro da Cultura, substituindo Graça Fonseca. O setor evitou para já grandes críticas. Apresentou as suas reivindicações, fazendo pelo meio questão de recordar a Adão e Silva que ele não é do meio. "Parece-nos que seria importante que conhecesse as pastas, o setor, os detalhes, que estivesse envolvido no que essa política pública pode ser. Parece-nos um bocadinho "tanto faz" que não é novo" (Cíntia Gil, da Plataforma do Cinema); "Não é tão importante a personalidade em si, quem é ou não é. O que queremos de um futuro ministro da Cultura são várias coisas, nomeadamente a resolução de problemas que não ficaram resolvidos neste ato pandémico" (Ricardo Bramão, presidente da Aporfest, Associação Portuguesa de Festivais de Música); "Não são os currículos que definem as políticas, é a ação e a autonomia para isso. Se ele tiver boas intenções, esperemos que correspondam às intenções que precisamos para o setor e que tenha condições políticas para cumprir essas boas intenções"(Rui Galveias, do Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos); "Temos a expectativa de que o novo ministro efetue um diálogo connosco para entender melhor a realidade do setor" (Pedro Sobral, presidente da APEL, Associação Portuguesa de Editores e Livreiros).
Adão e Silva terá agora de deixar o cargo de comissário executivo das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. O Presidente da República elogiou-lhe ontem a "criatividade" nesse cargo. E fez votos para que agora possa continuar a exercitar a sua "cultura democrática e cívica, não se esquecendo dos 50 anos do 25 de Abril".
Quem ouviu elogios foi a nova ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, pioneira mundial na eletrónica do papel e vice-reitora da Nova. "É uma escolha surpreendente na medida em que não é um político que é escolhido para o lugar, mas acho que é uma lufada de ar fresco. Elvira Fortunato vai constituir uma equipa para assessorar o exercício das funções e nós cá estaremos para ser parte da solução e não do problema", disse o presidente do CRUP (Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas). António de Sousa Pereira considerou que Elvira Fortunato "tem um conhecimento ímpar da situação da Ciência em Portugal", pelo que "pode ter um contributo absolutamente decisivo e diferenciador". "[Esta escolha] pode representar uma rutura com aquilo que era o passado recente e pode ser um ponto muito importante para que se tomem medidas que sejam também de rutura com o passado e que permitam resolver alguns dos problemas que o setor enfrenta há muitos anos."
O novo Governo terá também, pela primeira vez na história, uma mulher como ministra da Defesa, Helena Carreiras, diretora do Instituto de Defesa Nacional. As associações profissionais de militares saudaram positivamente a escolha. O presidente da Associação de Sargentos, António Lima Coelho, disse não haver dúvidas de que "é das pessoas mais informadas sobre as questões militares e há anos que se dedica a esta causa". Já a AOFA (Associação de Oficiais das Forças Armadas) salientou ou que "contrariamente aos seus antecessores que ocuparam esta relevante pasta nas últimas décadas, Helena Carreiras tem um vasto currículo" na Defesa - elogio também feito pela Associação de Praças.
As "corporações" não se resumiram porém a elogios. A DECO lamentou que a nova orgânica governamental não inclua uma secretaria de Estado para a defesa do consumidor. Já a ARIC (Associação de Rádios de Inspiração Cristã) criticou a perda de representação da comunicação social no novo Governo, que deixa de ter secretaria de Estado do Cinema, Audiovisual e Media.
No Parlamento, os partidos da oposição reagiram como esperado, criticando as escolhas de Costa. Não são um "bom indicador", disse Paula Santos, que será a nova líder parlamentar do PCP. O PSD reagiu num tom mais neutro: "O que se espera é que o Governo possa entrar em funções e que aproveite as pastas em que houve renovação para abordar os principais problemas do país", afirmou o deputado Nuno Carvalho. A IL, pelo contrário, criticou o facto de o novo Executivo incorporar vários putativos candidatos à sucessão de Costa na liderança do PS: "Fica a dúvida se estamos a ter um Governo virado para as necessidades dos portugueses ou um Governo virado para os interesses do PS", disse Rui Rocha, deputado dos liberais.
O XXIII Governo Constitucional toma posse quarta-feira. Na véspera será instalado o novo Parlamento.