Novo escândalo sexual abala campanha dos republicanos

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Fazem-se apostas pelos corredores e esquinas de Washington: quando cai o speaker (presidente) da Câmara dos Representantes, Dennis Hastert? A maioria aponta para este fim-de-semana, mas as apostas que mais pagam são as dos que julgam que dura até à próxima semana.

Tudo isto porque o speaker não consegue explicar como é que não sabia que o congressista republicano Mark Foley perseguia os pajens internos, estudantes do secundário que fazem recados no Congresso. Hastert diz que só agora soube que Foley se portava mal com os jovens, mas Kirk Fordham, que foi assessor de Foley, garante que há mais de três anos que teve "mais do que uma comversa com funcionários superiores ao mais alto nível na Câmara dos Representantes, pedindo-lhes que interviessem". Fordham demitiu-se na quarta-feira, enquanto o chefe de gabinete de Hastert, Scott Palmer, dizia que "o que Fordham diz não aconteceu".

Isso foi o que ontem começou a investigar a Comissão de Ética da Câmara dos Representantes. A comissão é bipartidária, mas há quem duvide da sua eficácia, preferindo que fosse uma entidade exterior ao Congresso a inquirir.

Ainda na noite de quarta-feira Hastert dizia que não se ia demitir, mas a verdade é que já não tem controlo sobre decisões dessa natureza. Entrou-se no "Freak Show", o "circo de aberrações", processo que os republicanos conhecem bem e que usaram com sucesso há dois anos para derrotar John Kerry: começa por aparecer uma informação bizarra (no caso de Kerry foi sobre o penteado e o barbeiro), a que se seguem notícias cada vez mais graves, disparadas em todas as direcções. O processo é explicado detalhadamente no livro The Way to Win, lançado há dois dias, mas ambos os partidos americanos o dominam e aplicam frequentemente.

No caso de Foley, representante de um distrito da Florida que os republicanos tinham como seguro, o que está em jogo é o controlo da Câmara dos Representantes nas eleições de 7 de Novembro.

As sondagens dão globalmente vantagem aos democratas, mas há duas razões para não serem fiáveis: primeiro, porque nas eleições legislativas há maior interacção entre eleitores e candidatos, que são conterrâneos e geralmente bem conhecidos; segundo, porque ainda faltam quatro semanas, tempo mais do que suficiente para que sejam usados, de parte a parte, mais uma série de truques do "Freak Show", que de um momento para outro destroem credibilidades. Que o diga Hastert, o speaker bonacheirão que há uma semana era considerado pedra fundamental da estabilidade e consenso.

Quanto a Mark Foley, depois de se ter demitido na sexta-feira, começou a reger o seu próprio "Freak Show". O primeiro acto foi um solilóquio do advogado: o seu cliente "nunca tentou ter contacto sexuais com menores", é alcoólico e gay e entrou imediatamente numa clínica de reabilitação (não disse de quê).

O expediente da clínica de reabilitação é um arabesco paralelo cada vez mais usado por políticos, estrelas de Hollywood ou quem quer que tenha dinheiro para tanto (79 mil dólares por semana...) e queira desaparecer por uns tempos, até as coisas acalmarem. Normalmente, ao fim de quatro a seis semanas estão completamente "curados" e "recuperados"... No caso de Foley, nessa altura as eleições já terão acontecido e haverá uma nova aberração em pista no "Freak Show".

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