Novo disco dos Red Hot Chili Peppers é ainda mais do mesmo

Os mais melosos temas são radiofónicos mas sofrem de pequenez.
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Vale a pena relembrar a história dos Red Hot Chili Peppers - gloriosa, trágica, brilhante, complicada. Criaram o seu espaço sonoro, com aquele cosmopolitismo de hard-rock com funk e rap. E quando ainda tinham que partir muita pedra e derrubar resistências, uma overdose de heroína rouba a vida ao fenómeno de guitarra Hillel Slovak em 1988. Um garoto de 18 anos, fã devoto dos Red Hot, ocupa o seu lugar: chama-se John Frusciante. Rapidamente consegue impor-se com o seu nome e não como um delfim de Slovak. Os fundadores e desnudados Anthony Kiedis (vocalista) e Flea (baixista) são os donos da banda. Depois de um corrupio de bateristas, Chad Smith consegue tomar de vez o assento no banco junto aos tambores. Estavam reunidas as condições para a conquista do mundo que iria chamar-se Blood Sugar Sex Magik (de 1991), o quinto álbum da banda de Los Angeles.

Já não era preciso ir a um pequeno clube ou a um festival longínquo para os ver, os Chili Peppers entravam já pela nossa casa adentro (obrigado MTV, obrigado antena parabólica) e instalavam-se na nossa sala. Tempestade e bonança revezam-se. Segue agora a vez da tempestade: John Frusciante aliena-se na toxicodependência e sai da banda; o guitarrista ex-Jane"s Addiction, Dave Navarro, toma-lhe o lugar mas não fala a mesma linguagem musical de Kiedis e Flea no injustiçado longo One Hot Minute (de 1995). Venha depois a bonança, venha John Frusciante recuperado e de volta à guitarra e os dias mais felizes dos Chili Peppers acontecem com os álbuns Californication (de 1999) e By the Way (de 2002).

Depois das inspiradoras atribulações, os Red Hot vivem há alguns anos uma insípida normalidade. John Frusciante já não está nas fileiras da banda há algum tempo, mas o seu substituto, o guitarrista Josh Klinghoffer, faz tudo o que a música dos Red Hot Chili Peppers lhe pede. Talvez até de mais. Esse conformismo marca o álbum nº11 do grupo, The Getaway, com o som certo para agradar aos fãs do quarteto californiano, sem o desequilíbrio, o risco e o aparato que a presença de Frusciante conseguia instaurar (repartindo louros com os restantes membros).

Os mais melosos temas The Getaway e The Longest Wave são radiofónicos quanto baste para finais de tarde mas sofrem de pequenez quando comparados com canções afins de outros tempos como Under the Bridge e Scar Tissue. Elton John toca piano em Sick Love como se fosse mero figurante de um filme só dos Red Hot. Dá-se mais por ele nos créditos do que propriamente na canção.

Mas apesar das inegáveis qualidades dos Chili Peppers terem uma confirmação demasiado institucional neste disco de 13 faixas, há também alguma turbulência criativa em The Getaway, como em Go Robot, em que Anthony Kiedis parece acompanhado pelos ABBA num tema mais disco-sound, mas é o produtor Danger Mouse a brincar aos sintetizadores. Goodbye Angels é outro regresso de salutar à imprevisibilidade, tal como a virilidade rockeira de Detroit e de This Ticonderoga, com Flea, Klinghoffer e Chad Smith em trabalhos, sobretudo na caixa de mudanças, para acompanhar as velocidades, à rapper, do vocalista Anthony Kiedis.

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Isto é, Anthony Kiedis a cantar à velocidade de um rapper uma letra forte sobre a amada que se suicida, o baixo de Flea a "solar" ao seu modo distinto e a guitarra elétrica de Josh Klinghoffer a embebedar-se com brio naquela apoteose instrumental final. Os Red Hot ainda são o que eram, mas já não alargam os padrões do rock como dantes.

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