A oferta apresentada pelo fundo Aethel para a compra do Novo Banco prevê a tomada de 91% do capital do ex-BES, com os 9% remanescentes a ficarem em mãos públicas. Em troca de 91% do capital o Aethel propõe-se pagar "até 2,8 mil milhões", sem especificar as condições que influenciam este preço. E promete um aumento de capital de mil milhões no banco..Os termos da oferta são parcialmente detalhados na carta enviada por este fundo ao Ministério das Finanças e ao Banco de Portugal no final de fevereiro, a que o DN teve acesso. O envio da carta foi noticiado na segunda-feira pelo Jornal de Negócios, que já em janeiro tinha revelado o interesse da Aethel no ex-BES..Neste caso, tal como nos restantes "documentos confidenciais" que têm vindo a público sobre as ofertas pelo Novo Banco, nada é revelado sobre as dores associadas a cada oferta. Falamos por exemplo de quantos trabalhadores serão despedidos ou balcões fechados, aspetos ausentes dos documentos ou partes destes que vão surgindo..Lone Star? "Oportunistas!".Na carta a Mário Centeno e a Sérgio Monteiro, o Aethel não puxa apenas pela sua oferta, faz um ataque ao Lone Star, entidade escolhida para a última ronda negocial pelo Novo Banco. Além de riscar a hipótese de se associar a este fundo - "seria inaceitável" - , o Aethel critica a oferta: "Com base nas informações públicas, acreditamos que não serve os interesses da República", afirmam, concluindo que serão melhores defensores do interesse público do que "novos operadores oportunistas"..A oferta do Aethel, porém, poderá também ela ser vista como oportunista: os investidores que participam neste fundo são aqueles que avançaram judicialmente contra o Banco de Portugal e que agora procuram fechar um acordo extrajudicial através da tomada do Novo Banco, ainda antes de qualquer decisão dos tribunais. "A estrutura do Aethel para avançar com a aquisição definirá os parâmetros para satisfazer os queixosos, cujos valores, em última análise, teriam de ser pagos pelo Fundo de Resolução, reduzindo substancialmente o risco sobre o Estado", diz a carta..Apesar de as Finanças e de o Banco de Portugal terem recebido e debatido a carta do Aethel, a verdade é que este fundo continua de fora da corrida, já em fase de negociações exclusivas com o Lone Star. A única forma de conseguir entrar na corrida passaria pela associação a um candidato que tenha percorrido o caminho todo, isto quando o fundo recusa associar-se aos norte-americanos do Lone Star e sublinha que a sua oferta "vale por si só". Uma outra hipótese passaria por ter o Banco de Portugal a alterar as regras a meio da venda, algo que, porém, pode acarretar ainda mais processos..Aethel, Miguel Relvas e Caimão.A carta do Aethel é assinada por Aba Schubert e Ricardo Santos Silva, fundadores do fundo, mas a sociedade estende-se também a Miguel Relvas, ex-ministro de Passos Coelho e parceiro do Aethel na Pivot, sociedade presidida pelo mesmo Ricardo Santos Silva e que aproveitou os escombros de um outro banco colapsado, no caso o BPN, para avançar sobre o Efisa..Mas além de ser o líder do Aethel e da Pivot, Ricardo Santos Silva é também presidente de outras duas sociedades, estas sediadas nas ilhas Caimão: a Danae, de consultoria, e a Perseus, dedicada à recuperação de crédito. Santos Silva apresenta ainda no currículo uma passagem de três anos pelo BES Investimento, entre 2004 e 2007.