Novas regras europeias ameaçam compras 'online'
As novas regras europeias sobre comércio eletrónico ameaçam interromper as compras 'online' e trazer "complicações e inconvenientes" aos consumidores, alertou esta terça-feira a Visa, empresa de tecnologia de pagamentos.
"Estas novas propostas ameaçam seriamente afetar a forma como todos realizamos compras 'online'. Os planos trarão complicações e inconvenientes, incluindo mais transações declinadas e experiências de 'checkout' mais longas e complicadas, com pouco ou nenhum benefício para os consumidores", realçou em comunicado Sérgio Botelho, responsável da Visa em Portugal.
A Autoridade Bancária Europeia (EBA) apresentou recentemente propostas para a forma como vai implementar o chamado sistema de autenticação forte do cliente (SCA). Os planos incluem uma abordagem 'one size fits all', onde cada transação 'online' acima de 10 euros irá exigir etapas adicionais no 'checkout', como a introdução de 'passwords' (palavras-passe), códigos ou o uso de um leitor de cartão.
"Apoiamos completamente fortes medidas de segurança. No entanto, gerir pagamentos é sempre uma questão de encontrar o equilíbrio certo entre a segurança e a conveniência. A abordagem de 'one size fits all' afasta este equilíbrio, tornando difícil para os consumidores fazer compras onde, quando e no dispositivo que quiserem. E isso vai irritar os consumidores e prejudicar o potencial das empresas para vender os seus bens e serviços", vincou Sérgio Botelho.
Segundo uma pesquisa independente efetuada para a Visa, levada a cabo junto de consumidores de cinco países europeus, as propostas apresentadas significariam "o fim dos express 'checkouts' 'online'".
Isto inclui 'checkouts' de um só clique, mesmo em lojas onde os consumidores fazem compras regularmente, e o fim dos pagamentos rápidos e automáticos nas aplicações onde os cartões já estão associados.
"A Visa estima que metade dos consumidores europeus que fazem compras 'online' sejam afetados. A pesquisa revelou que quase dois terços (61%) abandonaria a compra se mais etapas forem adicionadas ao processo de 'checkout' e de pagamento quando compram 'online'", lê-se no comunicado.
Mais, a Visa alerta para o "reduzido acesso a compras 'online' fora da Europa", sublinhando que "as propostas significam que os 'websites' internacionais terão que seguir as novas regras europeias ou as compras serão automaticamente declinadas".
A Visa estima que um total de seis mil milhões de euros em pagamentos possam ser impactados, representando dois terços de todas as transações europeias em 'sites' internacionais.
A pesquisa demonstra ainda que 51% dos consumidores compram hoje 'online' a retalhistas fora da União Europeia.
Por fim, a Visa aponta para "longas filas e problemas no uso de cartões em locais como portagens e parques de estacionamento, onde a introdução do código PIN já não é necessária hoje", indicando que, em França, tal afetaria mais de 500 milhões de viagens por ano.
"O comércio eletrónico tem sido um sucesso Europeu numa época de fraco crescimento económico global, mas esta iniciativa ameaça retardar o crescimento e reduzir a competitividade das empresas europeias contra concorrentes de outras partes do globo", rematou a Visa.
A Autoridade Bancária Europeia publicará as propostas de normas finais em 12 de janeiro de 2017. Estas normas são uma resposta aos requisitos da Diretiva de Serviços de Pagamento (PSD2), que obriga a um sistema de autenticação forte do cliente para todos os pagamentos eletrónicos.
Sérgio Botelho concluiu que "todo este inconveniente não vem acompanhado de nenhuma evidência de que ele vai realmente reduzir a fraude", considerando que o sistema atual "funciona", estando "assente numa abordagem de autenticação baseada no risco".